Dólar abre em queda com dados de atividade e cenário global no radar

Dólar abre em queda nesta quinta-feira com investidores de olho nos dados de atividade econômica dos EUA e tensões comerciais com a China.
Dólar abre em queda — foto ilustrativa Dólar abre em queda — foto ilustrativa

O dólar abriu em queda nesta quinta-feira, com investidores avaliando dados de atividade econômica divulgados pelo Banco Central. O IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) apresentou uma alta de 0,4% em agosto em relação a julho, na série dessazonalizada. Às 9h05, a moeda norte-americana registrava queda de 0,31%, cotada a R$ 5,4452. Na quarta-feira, o dólar fechou em queda de 0,14%, a R$ 5,462.

Decisão do Fed e mercado de trabalho nos EUA

O Mercado repercutiu o discurso do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) na véspera. Jerome Powell destacou que as perspectivas para a inflação e o emprego parecem ter mudado pouco desde o último encontro do Fed em setembro. Na ocasião, os dirigentes reduziram as taxas de juros e projetaram mais dois cortes para este ano.

Powell observou que o mercado de trabalho tem dado sinais de fraqueza. “As evidências disponíveis sugerem que tanto as demissões quanto as contratações permanecem baixas, e que tanto as percepções das famílias sobre a disponibilidade de empregos quanto as percepções das empresas sobre a dificuldade de Contratação continuam em trajetória descendente”, disse.

Esse cenário de poucas contratações e demissões ocorre em paralelo a uma atividade econômica “mais firme do que o esperado”. Os sinais mistos levam as autoridades do Fed a adotar uma abordagem “reunião por reunião” para decidir sobre a taxa de juros, afirmou Powell.

Os comentários reforçaram a perspectiva de que o ciclo de cortes de juros deve continuar nas próximas reuniões. “Um corte de juros em outubro está dado”, afirma Julia Coronado, fundadora da empresa de pesquisa MacroPolicy Perspectives e ex-economista do Fed. “Nada mudou a perspectiva de que ainda há riscos de queda no mercado de trabalho.”

A ferramenta CME Fed Watch indica uma probabilidade de quase 100% para uma nova redução de 0,25 ponto percentual no encontro de 28 e 29 de outubro, repetindo a dose da reunião passada. A taxa de juros do Fed está na banda de 4% a 4,25% desde então.

Impacto do shutdown e dados econômicos

O Governo federal dos EUA entrou em paralisação (shutdown), o que suspendeu a divulgação de novos dados oficiais. O Departamento do Trabalho adiou a publicação do relatório “payroll” de setembro, mas convocou funcionários para preparar os dados do índice de preços ao consumidor de setembro, que serão divulgados ainda este mês.

O Fed monitora de perto os dados de inflação e desemprego para suas decisões de juros. Com a inflação ainda acima da meta de 2% e o mercado de trabalho resfriando, os dirigentes estão divididos sobre o rumo da política monetária.

Powell mencionou que estão buscando fontes alternativas de dados do setor privado, mas enfatizou a importância dos dados governamentais, chamados por ele de “padrão ouro”. “Não esperamos conseguir repor os dados que não estamos recebendo. Começaremos a sentir Falta desses dados, principalmente os de outubro. Se isso continuar por um tempo, eles não os coletarão, e a situação pode se tornar mais desafiadora.”

A taxa de juros dos Estados Unidos influencia o humor dos investidores globalmente. Quando ela está elevada, operadores tendem a realocar recursos de outros mercados para a renda fixa americana, o investimento mais seguro do mundo, o que favorece o dólar ante outras moedas. Quando ela cai, esses recursos se pulverizam para outras praças, desvalorizando o dólar.

Em relação ao Brasil, o diferencial de juros continua a jogar a favor. Quanto maior a diferença entre a taxa americana e a Selic, mais rentável se torna a estratégia conhecida como “carry trade”. Nessa operação, toma-se dinheiro emprestado a taxas baixas nos EUA para investir em ativos de alta rentabilidade, como a renda fixa brasileira. Assim, quanto mais atrativo o carry trade, mais dólares tendem a entrar no Brasil, o que ajuda a valorizar o real.

Gráfico indicando a cotação do dólar e indicadores econômicos em queda.
Cotação do dólar em queda nesta quinta-feira.

Tensões EUA-China e guerra comercial

As tensões entre Estados Unidos e China continuam no radar. Scott Bessent, secretário do Tesouro norte-americano, acusou Pequim de tentar prejudicar a economia mundial ao restringir as exportações de terras raras e minerais críticos.

Na semana passada, o governo de Xi Jinping anunciou controles de exportação que podem causar rupturas no fornecimento global de terras raras, produtos essenciais para diversas indústrias. Pela nova regra, empresas estrangeiras precisarão de autorização de Pequim para exportar ímãs críticos e outros produtos com terras raras.

Citando a “posição extraordinariamente agressiva” dos chineses, o presidente Donald Trump anunciou tarifas adicionais de 100% sobre produtos da China a partir de 1º de novembro. Em resposta, o Ministério do Comércio chinês defendeu o diálogo, mas afirmou estar disposto a “ir até o fim” caso os EUA não voltem atrás nas sobretaxas adicionais.

O cenário reacende o risco de uma guerra comercial, semelhante à do início do ano. Após meses de tensões, as sobretaxas foram reduzidas para 30% sobre a China e 10% sobre os EUA.

O fim de semana trouxe moderação de tom, e Bessent afirmou que Trump está pronto para se encontrar com Xi Jinping em uma reunião marcada para 29 de outubro. Ele declarou que os EUA não querem intensificar o conflito e não desejam se dissociar da segunda maior economia do mundo.

Fonte: Folha de S.Paulo

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