Fraude no CNU: Irmão alega letra horrível e rasuras para nota baixa na redação

Investigado na Operação Última Fase, homem diz que nota baixa na redação do CNU foi por letra ‘horrível’. PF apura esquema de fraudes em concursos públicos.
Fraude no CNU — foto ilustrativa Fraude no CNU — foto ilustrativa

Um dos investigados na Operação Última Fase, que apura um esquema de fraudes em concursos públicos, afirma ter tirado uma nota baixa na redação do CNU (Concurso Nacional Unificado) por ter uma letra ‘horrível’, além de rasuras na prova.

Valmir Limeira de Souza, 53, é irmão do ex-policial militar Wanderlan Limeira de Sousa, apontado pela PF (Polícia Federal) como um dos líderes do esquema que teria ligação com praticamente todos os nomes citados no inquérito.

De acordo com a investigação, Valmir foi aprovado para o cargo de AFT (auditor-fiscal do trabalho), que tem remuneração inicial de R$ 22.921,71, com um gabarito que apresentava padrões idênticos aos de outros investigados e familiares. O fato de pelo menos três pessoas da mesma família terem sido aprovadas chamou a atenção da PF e foi um dos indícios para o início da apuração.

Operação policial em andamento relacionada a fraudes em concursos.
Suspeitos foram alvos da Polícia Federal em operação contra fraudes em concursos públicos.

Segundo a Polícia Federal, a análise do celular de Valmir indica que ele não tinha familiaridade com o concurso para o qual foi aprovado. No aparelho, não foram encontrados registros de estudo nem conversas sobre os conteúdos da seleção, segundo a investigação.

Após a divulgação das notas da fase discursiva, Wanderlan orienta Valmir a entrar com um recurso para tentar aumentar sua pontuação, aponta a investigação. Segundo o relatório da PF, é o ex-policial quem redige os textos do pedido de revisão e depois utiliza o ChatGPT para revisar um modelo de recurso. O texto revisado é então enviado a Valmir, com a instrução para que ele o utilize.

As mensagens entre os irmãos mostram ainda que Valmir não sabia o motivo para entrar com recurso. Ele não questiona nenhum erro da banca na correção, mas segue a recomendação do irmão para tentar elevar sua nota. A PF destaca também que as mensagens redigidas por Valmir continham erros de português considerados incompatíveis com o nível de domínio da língua esperado de um candidato aprovado para o cargo de auditor-fiscal, um dos mais concorridos da edição do ano passado do CNU.

Documentos e provas sendo analisados pela Polícia Federal.
Evidências coletadas pela PF indicam possível fraude em gabaritos.

Apesar de ter sido aprovado para o cargo, o candidato não foi convocado na primeira lista para participar do curso de formação. Segundo a PF, no entanto, era provável que ele fosse chamado para participar em outra Convocação.

Durante a conversa que consta na investigação, Wanderlan se irrita com o irmão por ele insistir em colocar ‘revisão’ no campo de assunto do recurso.

Em áudio, ele diz: ‘Não, não é solicitação de revisão não, porra. Eu já não disse a você? É elevação da nota’, afirma. ‘Lá no assunto você botou errado de novo. Tira aquele nome de revisão, em nome de Jesus.’

Após receber os textos do recurso prontos, Valmir agradece a ajuda do irmão. ‘Valeu aí pela força, né? A gente precisa, às vezes, e eu sou muito ansioso mesmo. Mas vai dar certo, se Deus quiser. E Deus quer. Eu estou com o joelho no chão. Estou orando, estou jejuando. Eu tenho certeza que Deus não vai me desamparar, não’, diz, em mensagem de áudio.

Depois, Wanderlan, que também foi aprovado no cargo de AFT, afirma que cederia sua vaga se fosse necessário para garantir a aprovação do irmão.

Atualmente, o suspeito é servidor público da UFPB (Universidade Federal da Paraíba), onde ocupa o cargo de assistente administrativo, com remuneração bruta de R$ 5.763,65. Em nota, a universidade diz que tomou conhecimento, por meio da imprensa, das investigações conduzidas pela Polícia Federal na Operação Última Fase, que envolvem o servidor.

‘A UFPB esclarece que não recebeu, até o momento, qualquer notificação oficial sobre o caso. Portanto, o servidor, que se encontra atualmente, a pedido, em licença de suas funções, permanece vinculado ao quadro de servidores técnicos desta universidade’, diz a instituição.

Sede da Polícia Federal.
PF investiga esquema de compra de gabaritos para concursos públicos.

O relatório da PF também aponta Valmir como um dos responsáveis por captar interessados em comprar gabaritos e fraudar outros certames.

A investigação diz ter reunido evidências de que Valmir tentou convencer Wanderlan a passar integralmente a responsabilidade pelos crimes a seu filho, Wanderson Gabriel (que havia sido preso em julho deste ano por fraude no concurso da Polícia Militar da Paraíba), ou transferi-la a uma terceira pessoa, já falecida.

Em nota, a Defesa de Wanderson diz que não se manifestará sobre pontos isolados que, segundo eles, podem estar fora de contexto. ‘É sempre necessário acesso aos autos completos para que o trabalho possa ser realizado’, diz o advogado do caso.

Fonte: Folha de S.Paulo

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