Nobel da Paz: Por que Trump Não Mereceu a Honraria Histórica

Entenda por que Donald Trump não foi agraciado com o Nobel da Paz, comparando sua trajetória com a de Mahatma Gandhi e o valor intrínseco da honraria.
Nobel da Paz Donald Trump — foto ilustrativa Nobel da Paz Donald Trump — foto ilustrativa

A concessão do Prêmio Nobel da Paz, desde sua criação em 1901, tem sido um reconhecimento para aqueles que dedicam suas vidas à conciliação, ao diálogo e à fraternidade entre os povos, em meio a conflitos globais. Não se trata de um troféu político, mas de um símbolo moral universal. Por isso, a mera cogitação do nome de Donald Trump para tal distinção causava perplexidade, dada sua trajetória marcada pela retórica do confronto, pela degradação do debate cívico e pela fragmentação de alianças internacionais.

A paz é uma conquista lenta, fruto de renúncia e generosidade, e não de exibicionismo diplomático ou marketing eleitoral. A comparação entre Donald Trump e figuras como Mahatma Gandhi, que nunca recebeu o Nobel da Paz apesar de ser um apóstolo da não violência e artífice de uma revolução moral, ressalta a inconsistência. O próprio Comitê Norueguês reconheceu essa omissão como um grave equívoco histórico.

A Contradição de Premiar o Confronto

Se o mundo negou o prêmio ao homem que libertou uma nação pela força do exemplo e pela pureza da palavra, como Gandhi, não faria sentido concedê-lo a quem frequentemente alimentou divisões, cultivou ressentimentos, instrumentalizou a política como arena de hostilidade e utilizou a humilhação como arma de sua política externa, como observa José Sócrates, ex-Primeiro-Ministro de Portugal. Essa abordagem, baseada em uma “diplomacia do desprezo”, afetou líderes como Zelensky e outros.

O Nobel destina-se a celebrar a humanidade, não a recompensar o poder. A não concessão do prêmio a Trump é, portanto, um ato que aplaude a manutenção do valor moral da distinção. Há pessoas e instituições que engrandecem o Prêmio Nobel da Paz, e seria Donald Trump um desses casos? Claramente, não.

O Mérito Verdadeiro Segundo Ruy Barbosa

O discurso “Oração aos Moços” (1920), de Ruy Barbosa, oferece uma reflexão profunda sobre o mérito verdadeiro em contraposição às honrarias exteriores. Em suas palavras, “As distinções humanas, meus senhores, valem não pelo que deslumbram, mas pelo que significam. Não é o prêmio que faz o merecimento, é o merecimento que dá dignidade ao prêmio. O aplauso da turba é o eco da vaidade; o reconhecimento silencioso das consciências é o selo da virtude.”

Ruy Barbosa, em “A Imprensa e o Dever da Verdade” (1919), já advertia sobre a função moral da palavra e da fama: “não basta receber homenagens, é preciso merecê-las! A honra exterior deve ser o reflexo de uma virtude interior, e não o disfarce de uma vaidade satisfeita.”

Conceder a Trump o Nobel da Paz sem méritos concretos seria uma distorção histórica do sentido do prêmio. Qualquer prêmio concedido sem mérito confessa um erro. Respeitar a paz, em tempos de ruído, violência e intolerância, significa jamais traí-la com aplausos indevidos ou decisões de instituições subservientes.

A Inconsistência Histórica e Moral

O pensamento de Ruy Barbosa ilumina a atualidade da crítica à hipótese de premiar Donald Trump. Essa reação não era nem é uma simples discordância política, mas uma reação moral. Outorgar o Nobel da Paz a quem dividiu em vez de unir, construiu muros em vez de fortalecer amizades internacionais, e desrespeitou a dignidade de imigrantes seria converter um símbolo moral em objeto de repulsiva vaidade pessoal.

Enquanto Mahatma Gandhi repousa sem o Nobel da Paz, todo prêmio sem mérito reflete a vaidade humana, e não a luz de um julgamento moral positivo. Quando se cogitou conceder tal honra a quem erigiu muros, fomentou rancores e confundiu poder com verdade, a consciência universal se mostrou indignada. Símbolos não podem ser profanados sem que o próprio sentido que representam se degrade.

O nome de Mahatma Gandhi, o homem desarmado que enfrentou o império britânico, paira como uma interrogação moral sobre a história do Nobel da Paz. O mundo lhe conferiu o título mais alto: o de testemunha viva da paz. Como justificar que o mesmo galardão pudesse ser outorgado a quem tantas vezes transformou a palavra em arma, o discurso em cisão e a política em espetáculo de vaidade? A não concessão a Donald Trump do Prêmio Nobel da Paz impediu um monumental erro histórico, que teria transformado a distinção em ironia e o laurel em caricatura. As razões plenamente justificadoras da não outorga a Donald Trump dessa imensa honra residem na omissão histórica inescusável em relação a Mahatma Gandhi e no paradoxo de se cogitar sua concessão a quem simboliza o oposto do ideal que o prêmio pretende consagrar.

Fonte: Estadão

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