Will Bank, Master e Reag: A Triangulação Bilionária de um Pré-Precatório

Descubra a complexa triangulação financeira entre Will Bank, Master e Reag envolvendo um pré-precatório bilionário e as ressalvas de auditoria.
Will Bank Banco Master Reag pré-precatório — foto ilustrativa Will Bank Banco Master Reag pré-precatório — foto ilustrativa

Uma complexa operação financeira bilionária envolvendo o Will Bank, o Banco Master e o grupo Reag, de João Carlos Mansur, veio à tona, centrada em um pré-precatório. O Will Bank, que está à venda e pode representar uma saída para o grupo de Daniel Vorcaro, foi recentemente ‘resgatado’ através de uma transação que gerou preocupações em auditorias.

Contexto da Operação e Primeiras Dificuldades do Will Bank

Criado em 2017, o banco digital Will Bank focava em baixa renda e experimentou um crescimento acelerado. Em 2021, atraiu um investimento de R$ 250 milhões da XP e da Atmos, que adquiriram 25% da empresa. Contudo, problemas surgiram, levando o Banco Central a emitir um “termo de comparecimento” em 2023, exigindo que os controladores encontrassem soluções para a instituição.

Inicialmente parte da financeira capixaba Avista, controlada pela família Piana, o Will Bank começou a apresentar fragilidades após o aporte da XP e Atmos. Relatos indicam que o foco em marketing e aquisição de novos clientes superou o investimento em sistemas para atender a base crescente, negligenciando alguns controles internos essenciais.

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A cisão da Avista com o Will Bank deixou pendências financeiras. A Avista devia dinheiro ao Will, que foi quitado com a transferência de um pré-precatório. Este ativo originou-se de um fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) chamado Azo, ligado a uma ação judicial da massa falida da construtora CIB contra o antigo DNER, avaliada em cerca de R$ 30 bilhões.

O FIDC Azo e as Novas Regras do Banco Central

Devido à incerteza sobre a probabilidade de êxito e o prazo de pagamento do pré-precatório, a família Piana transferiu o ativo para o Will Bank por algumas centenas de milhões de reais. A situação se complicou em 2023 com a entrada em vigor de uma nova regra do Banco Central, que tornou mais rigoroso o registro de precatórios nos balanços bancários, impactando diretamente a contabilização do FIDC Azo pelo Will Bank.

Essa mudança forçou o banco digital a buscar capital adicional. Diante da recusa da XP e Atmos em investir mais, o Will Bank iniciou a procura por um novo acionista. Em janeiro de 2024, foi anunciado um acordo com o Banco Master. Segundo apurou o Valor, os Piana receberam apenas algumas dezenas de milhões de reais, pois o Master assumiu os passivos do Will, e a XP e Atmos também venderam suas participações.

Parceria com Reag e Liquidação de Ativos Bilionários

A aquisição pelo Master foi realizada em conjunto com a Reag, grupo de João Carlos Mansur. O grupo de Daniel Vorcaro ficou com a licença de financeira e a carteira de crédito, enquanto a Reag adquiriu a licença de instituição de pagamento (IP), levando à mudança de nome da Will Pagamentos para Reag Pagamentos. O balanço do Will Bank em 2024 registra que o FIDC Azo foi “transferido de forma irrevogável e irretratável à Will Pagamentos, a partir da data do closing da reestruturação societária”.

O FIDC Azo, que constava no balanço do Will Bank no fim de 2023 com valor de R$ 546,551 milhões, deixou de ser contabilizado em 2024. Em eventos subsequentes, o Will informa que “os títulos a receber do controlador [Banco Master] e da Reag Pagamentos, no âmbito das transações de reestruturação societária, cujos saldos, nesta data-base, somavam R$ 724,312 milhões e R$ 359,100 milhões, respectivamente, foram liquidados em fevereiro de 2025”.

Em fevereiro de 2025, o Banco Master e a Reag Pagamentos quitaram R$ 1,083 bilhão ao Will Bank. Meses depois, o grupo de Mansur foi alvo da operação Carbono Oculto da Polícia Federal, que investiga ligações entre crime organizado e empresas do setor financeiro, levando a diversas alienações de ativos.

Ressalvas nas Auditorias e Impacto no Patrimônio

Até o primeiro semestre de 2024, a Deloitte era a auditoria do Will Bank e emitiu quatro ressalvas, sendo uma delas relacionada ao FIDC Azo. A auditoria apontou que “a carteira do FIDC Azo é essencialmente composta por direitos creditórios oriundos de pré-precatórios federais, os quais foram precificados pela administração, no reconhecimento inicial, com base em premissas diversas…”. A Deloitte não obteve “evidência de auditoria apropriada e suficiente em relação à mensuração do valor justo do FIDC Azo”.

Diante de dificuldades para aprovar o balanço do segundo semestre de 2024, o Will Bank trocou de auditoria para a KPMG. A nova auditora também registrou uma ressalva sobre o FIDC Azo. “Os valores correspondentes relativos às demonstrações financeiras do semestre findo em 30 de junho de 2024 e do exercício findo em 31 de dezembro de 2023 foram auditados por outros auditores independentes, que emitiram relatórios com ressalva sobre a mensuração do valor justo do Azo e correspondente impacto no resultado.”

Como parte do conglomerado prudencial do Master, o Will Bank não divulga seus índices de capital individualmente. No entanto, a instituição estima que a resolução do CMN 4.966, sobre provisionamento, impactará seu patrimônio em R$ 1,090 bilhão, podendo resultar em um patrimônio líquido negativo de R$ 659,269 milhões. O impacto estimado será computado a partir de janeiro de 2025.

Situação Financeira e Busca por Comprador

Dados do sistema IFData do Banco Central indicam que o Will Bank registrou um prejuízo de R$ 244,7 milhões no primeiro semestre de 2024, agravando sua situação de capital. Contudo, o Banco Central aprovou recentemente um aporte de R$ 419 milhões feito por Daniel Vorcaro no Will Bank e R$ 421 milhões no Banco Master Múltiplo.

O Banco Master contratou a consultoria Laplace para intermediar a venda do Will Bank, com negociações ainda em estágio inicial, apesar do interesse de potenciais compradores. A EB Capital, que liderava um grupo de investidores, incluindo o apresentador Luciano Huck, desistiu do processo.

Procurados, o Banco Master e o Will Bank não comentaram o caso. A Reag confirmou que a transação entre Master e Will foi pública e aprovada pelo Banco Central, além de ter sido submetida a auditorias independentes, assim como a aquisição da Will IP pela Reag.

Fonte: Valor Econômico

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