A Unigel, importante player do setor petroquímico brasileiro, teve seu pedido de recuperação judicial aprovado pela Justiça de São Paulo. A decisão, tomada pelo juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências, representa um marco em meio a uma crise financeira que assola a empresa, com dívidas que somam R$ 3,8 bilhões. Esta aprovação surge menos de um ano após a companhia ter concluído um processo de recuperação extrajudicial.
Contexto da Crise e Justificativas para a Recuperação Judicial
Em sua solicitação à Justiça, a Unigel detalhou os fatores que levaram à sua atual situação financeira. A empresa atribui a crise a uma combinação de fatores, incluindo a queda acentuada nos spreads internacionais de produtos químicos e petroquímicos. Além disso, a expansão produtiva da China, resultando em excesso de oferta global, e o consequente encarecimento de matérias-primas, também foram citados como determinantes. A companhia também ressaltou que as premissas econômicas que embasaram seu anterior acordo extrajudicial não se materializaram, agravadas por atrasos no desembolso de financiamentos, o que desequilibrou significativamente seu fluxo de caixa.
Desafios Operacionais e Estratégicos da Unigel
A Unigel enfrentou dificuldades em suas negociações com credores, que buscavam a Suspensão de cobranças até janeiro, período em que a empresa esperava iniciar a operação de sua nova fábrica de ácido sulfúrico, fundamental para a geração de caixa. No entanto, esses acordos não foram concretizados. Nos meses anteriores, a prioridade da empresa foi manter as obras da planta de ácido sulfúrico, o que resultou no acúmulo de dívidas com fornecedores de matérias-primas, como o gás, que chegaram a ameaçar o corte de suprimentos. Em agosto, a Unigel obteve uma liminar que suspendeu a execução de dívidas por dois meses.
Impacto da Planta de Ácido Sulfúrico e Investimentos em Hidrogênio Verde
A planta de ácido sulfúrico, localizada em Camaçari (BA), representa uma aposta estratégica para a recuperação da Unigel. Com um investimento total de US$ 135 milhões, a unidade tem previsão de conclusão em dezembro deste ano, com operação iniciada no mês seguinte. Espera-se que esta fábrica gere US$ 60 milhões anuais e produza 600 mil toneladas por ano. No entanto, o projeto, anunciado em 2021, sofreu atrasos em seu cronograma devido à crise. No segundo trimestre deste ano, o fluxo de caixa operacional da empresa foi negativo em R$ 77 milhões, evidenciando a urgência da nova unidade.
A crise da Unigel se intensificou em 2023, especialmente após a alta do preço do gás tornar inviável a operação das plantas de amônia arrendadas da Petrobras. Essa linha de negócio, que respondia por dois terços do Ebitda da empresa em 2022, foi fortemente impactada pela volatilidade do mercado de fertilizantes, exacerbada pela guerra na Ucrânia e pelo custo da matéria-prima após o primeiro ano de contrato de arrendamento. Além disso, investimentos de US$ 60 milhões em uma planta de hidrogênio verde, destinada à fabricação de amônia “verde”, foram paralisados. Essa fábrica, que prometia maior valor agregado, encontra-se “encaixotada” na Europa, com US$ 30 milhões de dívida associados à compra dos equipamentos nunca utilizados.
Reestruturação e Foco em Plásticos
A produção de acrílicos também se tornou economicamente insustentável devido à concorrência de materiais importados mais baratos, levando à paralisação de duas plantas em abril deste ano. Diante desse cenário, a Unigel reorientou sua estratégia, concentrando todos os seus recursos na construção da planta de ácido sulfúrico. Com a descontinuidade da produção de amônia e acrílicos, que antes representavam cerca de 60% da Receita, a produção de plásticos tornou-se a única fonte de receita da companhia, exigindo uma forte aposta na nova unidade de Camaçari.
Fonte: Estadão