Uma garrafa de vinho raro, um carro Clássico, uma mansão de luxo: itens que antes eram sinônimo de opulência e investimento estão perdendo valor. Recentemente, o mercado de ativos de luxo, que viu uma ascensão meteórica, começou a apresentar quedas significativas, levantando questões sobre o futuro do consumo da elite.


O Declínio de Bens de Luxo
Até meados de 2023, o mercado de luxo parecia imparável. Itens como vinhos finos, carros Clássicos e imóveis de alto padrão dispararam de valor. Um índice de investimento em luxo acompanhou essa tendência, subindo 70% entre 2015 e 2023. No entanto, desde seu pico, o mesmo índice sofreu uma queda de 6%. Vinhos de Bordeaux renomados viram seus preços caírem 20%, jatos particulares e barcos nos EUA desvalorizaram 6%, e até mesmo relógios Rolex usados perderam quase 30% de seu valor em comparação com 2022. Obras de arte também registraram baixa, e imóveis de luxo em cidades globais mal registram valorização.
O Paradoxo da Riqueza
Curiosamente, esse declínio no Mercado de luxo não reflete dificuldades financeiras entre os mais ricos. O número de bilionários globalmente aumentou, e os 0,1% mais ricos dos americanos detêm a maior parcela da riqueza familiar em décadas. A ascensão de setores como a inteligência artificial continua a gerar novos milionários, e os gastos dos mais ricos se mantêm robustos. A queda no valor dos bens de luxo parece ser um fenômeno econômico mais complexo.
A Mudança na Definição de Luxo
A análise de Thorstein Veblen, economista do início do século XX, sugere que o luxo reside na escassez e na rivalidade. Um bem é luxuoso não apenas por seu custo, mas por sua exclusividade. Hoje, o que é considerado escasso e desejável mudou. Com a proliferação de produtos de alta qualidade acessíveis e a capacidade de qualquer pessoa com recursos de adquirir bens de luxo, a exclusividade diminuiu. Diamantes cultivados em laboratório, vinhos de alta qualidade produzidos em massa e a facilidade de fretar jatos particulares tornam esses itens menos únicos.
O Ascensão dos Serviços de Ultra Luxo
Em contrapartida aos bens, o mercado de serviços de ultra luxo experimentou um crescimento expressivo. Um índice focado em experiências como ingressos para o Super Bowl, refeições com estrelas Michelin e estadias em hotéis de prestígio subiu 90% desde 2019, superando o desempenho dos bens de luxo. Hotéis como o Le Bristol em Paris viram o custo de uma noite dobrar desde 2019. Salários de empregadas domésticas qualificadas nos EUA dispararam, e o acesso a eventos exclusivos como o Met Gala ou um dia na quadra central de Wimbledon tornou-se extremamente caro e competitivo.
Essa demanda por serviços reflete a busca por experiências únicas e irressacáveis. O valor não está mais apenas no objeto possuído, mas na exclusividade do momento vivido e na impossibilidade de replicá-lo ou revendê-lo. A oportunidade de estar presente em eventos icônicos, como a final da Copa do Mundo, onde poucos podem estar, torna-se o novo ápice do luxo para os ultra-ricos, ofuscando o brilho de uma simples garrafa de vinho raro.
Fonte: Estadão