O presidente da Argentina, Javier Milei, busca socorro econômico dos Estados Unidos em meio a uma crise profunda. Donald Trump, presidente americano, ofereceu um resgate de US$ 20 bilhões, mas condicionou a ajuda à Vitória do partido de Milei nas eleições legislativas.
“Se ele não vencer, estamos perdidos. Se ele perder, não seremos generosos com a Argentina”, declarou Trump, em um comentário que gerou Reações imediatas.
A declaração foi vista na Argentina como uma tentativa de interferência eleitoral em um país soberano. Como consequência, o peso argentino despencou, opositores de Milei protestaram contra a que chamaram de “extorsão americana” e o Governo de Milei buscou tranquilizar a população sobre o compromisso dos EUA com o país.

Risco de sabotagem pelo apoio condicional de Trump
O apoio econômico condicional de Trump levanta dúvidas sobre tentativas de influenciar assuntos internos de outros países latino-americanos, usando incentivos econômicos. A turbulência gerada evidencia os riscos de Milei ao vincular o futuro econômico da Argentina à amizade instável de Trump e aos recursos dos EUA.
“Trump pode ter sabotado seu presidente favorito — ao lhe dar muito apoio e pouco apoio”, analisa Benjamin Gedan, diretor do Programa para a América Latina no Stimson Center. Milei, autodenominado libertário radical, buscou proximidade com Trump, elogiando-o frequentemente e adotando parte de sua retórica.
A intervenção do Tesouro dos EUA, prometendo comprar bilhões em pesos argentinos para evitar um Colapso, parecia um trunfo para Milei. No entanto, a forma como Trump apresentou a ajuda, soando como “extorsão”, pode ter provocado uma reação negativa.
Reações e precedentes de interferência de Trump
Pesquisas indicam que mais de 60% dos argentinos têm uma visão negativa de Trump, o que pode levar eleitores a punirem Milei nas urnas. A ministra da segurança nacional Argentina, Patricia Bullrich, tentou mitigar os comentários de Trump, sugerindo que ele falava de “filosofia, não da eleição”.
Este não é o primeiro caso em que Trump tenta influenciar resultados eleitorais. Ele usou tarifas e sanções contra o Brasil para tentar ajudar Jair Bolsonaro, que acabou condenado. No Canadá, Austrália e outros países, políticos alinhados a Trump foram punidos nas urnas, em um fenômeno conhecido como “anti-Trump bump”.
Milei, eleito em 2023 com a promessa de reformar a economia argentina, enfrenta dificuldades. Seu partido precisa de mais apoio nas eleições de 26 de outubro para implementar cortes de gastos. Eleitores e investidores demonstram impaciência com a falta de recuperação econômica, apesar do controle da inflação.

Contexto econômico e intervenção dos EUA
O Congresso argentino tem rejeitado planos orçamentários, e escândalos envolvendo a irmã de Milei afetaram sua credibilidade. Uma derrota eleitoral provincial recente intensificou a crise econômica, com investidores abandonando o peso.
O Tesouro dos EUA interveio com um swap cambial de US$ 20 bilhões para estabilizar a economia argentina, apresentando a medida como proteção à visão econômica de Milei. O Tesouro declarou estar pronto para “o que for necessário” para garantir o sucesso das reformas.
A ajuda de Trump também gerou reação política nos EUA, com democratas criticando o apoio a um país estrangeiro enquanto o governo americano enfrenta paralisações. Agricultores americanos também foram afetados, com a China priorizando a soja argentina sobre a dos EUA.
“Ele é MAGA até o fim”, declarou Trump, elogiando Milei e esperando que suas ideias econômicas se espalhem pela América Latina. A concretização da ajuda cambial dos EUA e a estabilização da economia argentina permanecem incertas. Com as eleições se aproximando, Milei precisa convencer eleitores e Trump de que sua visão econômica é viável, uma tarefa que se tornou ainda mais desafiadora.
Ana Ionova e Daniel Politi, moradores do Rio de Janeiro e Buenos Aires, respectivamente, acompanham a economia argentina.
Fonte: Estadão