Tráfico no Rio: Reposição de mortos e o ciclo vicioso da violência

Mortes por tráfico no Rio evidenciam ciclo vicioso de violência e reposição de criminosos. Entenda o debate sobre a liberação de drogas e seus impactos.
tráfico no Rio — foto ilustrativa tráfico no Rio — foto ilustrativa

A espiral de violência no Rio de Janeiro, evidenciada pela operação policial mais letal contra o Comando Vermelho, que resultou em até 120 mortos, reacende o debate sobre a eficácia das políticas de combate às drogas. A situação expõe a dificuldade em conter o crime organizado, mesmo com ações repressivas intensas.

O economista ultraliberal americano Milton Friedman defendia a liberação irrestrita do uso de drogas, argumentando que o combate bélico ao tráfico era ineficaz e gerava violência incontrolável. Segundo ele, a proibição não impedia o consumo e resultava em prisões em massa e mortes, especialmente na América Latina. As recentes mortes no Rio parecem corroborar sua tese sobre a lei da oferta e da procura, onde a alta demanda por drogas alimenta um Mercado lucrativo que atrai novos indivíduos dispostos a matar ou morrer.

Friedman, influenciado por Adam Smith, acreditava que nem o Estado, com todo seu aparato policial, poderia alterar a lei fundamental de oferta e demanda. No contexto das drogas, a procura gera uma oferta radical, com milhares dispostos a arriscar suas vidas para participar desse mercado. A reposição de traficantes mortos é rápida, garantindo a continuidade das operações. Paradoxalmente, quanto maior a repressão estatal, maiores os preços dos produtos ilegais, elevando a atratividade financeira do negócio. Organizações como o PCC e o Comando Vermelho se infiltram em diversos setores da economia brasileira, pois os recursos gerados pelo tráfico precisam ser “legalizados” através da integração com outras atividades.

A Dupla Face do Tráfico: Violência e Saúde Pública

A questão das drogas apresenta duas consequências devastadoras: a violência explícita e os graves impactos na saúde dos consumidores, afetando milhões de famílias diariamente. Uma liberação controlada das substâncias, nos moldes propostos por Friedman, poderia, hipoteticamente, mitigar a violência das facções contra o Estado. As consequências do uso de drogas passariam a ser tratadas como uma questão de saúde pública e privada.

Diversos países têm adotado a liberação de drogas leves, como os Estados Unidos com a maconha, resultando em ganhos de arrecadação e formalização de mercados antes ilegais. No entanto, há relatos de aumento de problemas de saúde, como surtos psicóticos, indicando que os Custos e benefícios desse modelo ainda são incertos e podem levar tempo para serem totalmente compreendidos.

Complexidade das Drogas Pesadas e Opinião Pública

A complexidade se acentua com as drogas pesadas, como os opioides, que possuem alto potencial viciante e podem ser fatais em pouco tempo. A entrada de grandes corporações nesse mercado levanta questões éticas e práticas. Além disso, a opinião pública no Brasil, onde pesquisas como a do Datafolha indicam que 67% da população é contra a descriminalização da maconha, ainda vê a questão como um problema moral, e não apenas econômico ou social.

Na prática brasileira, a tentativa de isolar a questão das drogas da criminalidade, focando apenas na saúde, parece inviável no curto prazo. O tráfico continuará a ditar suas regras, e as polícias seguirão em uma batalha de “enxugar o gelo”, com um alto custo humano em mortos e presos. Usuários e a população em geral continuarão a sofrer com as consequências do vício e da violência, incluindo o risco de serem vítimas de balas perdidas em áreas conflagradas.

Fonte: Estadão

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