Os títulos em dólar da Venezuela apresentaram uma alta superior a 50% em preço neste ano. Esse aumento ocorre em um momento em que investidores apostam que a pressão exercida pela administração Trump sobre o governo de Nicolás Maduro pode aumentar as chances de Caracas reaver o Acesso aos mercados globais.



A Venezuela, que entrou em default em 2017, foi impedida de reestruturar suas dívidas devido a sanções dos EUA e internacionais. Apesar disso, os títulos continuam sendo negociados, permitindo aos investidores comprar e vender reivindicações sobre uma eventual reestruturação da dívida.
Os preços atingiram cerca de US$ 0,25 este mês, o nível mais alto em mais de Meia década, superando os US$ 0,16 registrados no início do ano. Esse movimento reflete o enfraquecimento aparente do controle de Maduro sobre o poder.
Um detentor de títulos observou que a dívida venezuelana está “precificando uma maior opcionalidade de que ‘algo’ poderia acontecer em Caracas”, referindo-se à possibilidade de Maduro ser forçado a deixar o poder.
Pressão Intensificada dos EUA sobre a Venezuela
Nas últimas semanas, os Estados Unidos afundaram pelo menos cinco barcos venezuelanos suspeitos de tráfico de drogas, resultando na morte de pelo menos 27 pessoas. Essa ação seguiu o envio de oito navios de guerra e milhares de tropas para o Caribe a partir do final de agosto, além de 10 jatos F-35 enviados para Porto Rico.
Nicolás Maduro afirmou que o destacamento, que excede em muito a força necessária para deter lanchas rápidas, tem como objetivo garantir sua derrubada, uma alegação que Trump negou.
“Claro que existe a chance de que [Donald] Trump esteja blefando”, ponderou o detentor de títulos, “mas me parece que [o secretário de Estado dos EUA Marco] Rubio convenceu o presidente a jogar duro. Nós, investidores, estamos todos cansados do status quo na Venezuela.”
Adicionalmente, Trump encerrou um canal diplomático de retaguarda com o Governo de Maduro, que há muito tempo carece de autoridade para conduzir uma reestruturação da dívida.
Impacto no Mercado e Potencial de Recuperação
Investidores apontam que a aceleração do rally no último mês também refletiu uma entrada de capital buscando um rali geral em ativos de mercados emergentes neste ano. Essa dinâmica se soma ao foco dos EUA em Maduro, suposto líder de um cartel “narcoterrorista”.
O vasto potencial da Venezuela em amentar a produção de petróleo —país que detém as maiores reservas comprovadas do mundo— é uma das razões pelas quais os investidores acreditam que a eventual recuperação dos títulos será significativamente maior do que os preços atuais indicam. Isso ocorre mesmo com a produção de petróleo em estado precário devido a sanções, má gestão e deterioração.
As dívidas em dificuldades da Petróleos de Venezuela (PDVSA), a empresa estatal de petróleo, também acompanharam o rally. Um título com vencimento em 2035, por exemplo, subiu de US$ 0,11 para cerca de US$ 0,19.
Daniel Lansberg-Rodriguez, diretor da Aurora Macro Strategies, comentou que os preços dos títulos “podem subir ainda mais à medida que a administração Trump continua a aumentar a pressão em direção a um resultado que permanece deliberadamente indefinido”.
Mercados Emergentes e Retorno de Fundos
A inclusão das dívidas venezuelanas em um índice amplamente seguido do JPMorgan de títulos em dólar de mercados emergentes também contribuiu para o desempenho positivo. O índice apresentou uma alta de quase 11% este ano.
“A direção geral do mercado importa”, disse Cowen. “As saídas de mercados emergentes tornaram-se entradas —a cada mês, mais e mais fundos estão procurando construir uma posição em títulos venezuelanos.”
Em 2019, as sanções dos EUA levaram à remoção dos títulos do índice JPMorgan, “forçando um grande número de detentores a vender posições, movendo os preços para baixo até a faixa média dos US$ 0,10 e, finalmente, para dígitos únicos altos”, relatou Cowen. “Tornou-se um mercado de liquidação onde a precificação se tornou quase irrelevante.”
O número de fundos negociando títulos venezuelanos “provavelmente está acima de 400 hoje e aumentando a cada mês”, concluiu Cowen, destacando a recuperação do mercado.



Fonte: Folha de S.Paulo