Empresas ocidentais manifestaram grande preocupação com as recentes escaladas na disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, que envolvem as terras raras. A expectativa é de que essas novas tensões possam levar ao rompimento das cadeias de suprimentos e a um aumento nos Custos de produtos essenciais, como chips, automóveis e armamentos. Executivos do setor pedem uma resolução pacífica.

A China, que domina a produção global desses minerais críticos, já havia imposto restrições à exportação em abril, como resposta às tarifas impostas pelo governo anterior dos EUA. Essas medidas iniciais já causaram atrasos na produção automotiva e levaram empresas ocidentais a formar estoques de segurança.
Na semana passada, Pequim intensificou as restrições. Novas regras exigem que companhias estrangeiras obtenham autorização específica para exportar os ímãs que contêm terras raras de origem chinesa. Além disso, o compartilhamento de tecnologia de fabricação de ímãs com parceiros estrangeiros foi significativamente limitado.
Impacto nos Setores Estratégicos
A associação da indústria automotiva alemã (VDA) alertou que as novas regulamentações chinesas terão consequências profundas para o fornecimento de componentes essenciais para a Alemanha e para toda a Europa. No setor de Defesa, a preocupação é ainda maior, com relatos de que os novos controles podem atrasar a produção de componentes militares vitais, como os utilizados em caças F-35, mísseis Tomahawk e drones, além de elevar seus custos.
Gracelin Baskaran, diretora do programa de segurança de minerais críticos do CSIS (Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos), destacou que as medidas chinesas são extremamente punitivas, ao visarem até mesmo os menores vestígios de materiais chineses em capacidades militares estrangeiras.

Dependência e Busca por Alternativas
A China detém o monopólio na produção global de terras raras, sendo responsável por cerca de 90% do processamento e mais de 90% da fabricação de ímãs do mundo. Esses minerais são indispensáveis para tecnologias que vão de smartphones a veículos elétricos e jatos de combate. As novas regras chinesas dificultam o desenvolvimento de indústrias de ímãs em outros países e restringem o intercâmbio Técnico.
Montadoras estão dobrando ou triplicando seus pedidos a fabricantes de ímãs europeus. O CEO da Magnosphere, Frank Eckard, alertou para “graves problemas” no setor automotivo global, afirmando que “toda a cadeia de fornecimento está se rompendo, e isso vai se acelerar”. Empresas têm tentado contornar as restrições usando portos com fiscalização mais branda ou optando pelo transporte aéreo, que é mais caro.
O comissário europeu de Comércio, Maros Sefcovic, considerou as exigências chinesas “excessivas e inviáveis” e propôs uma discussão com ministros do G7 para uma estratégia conjunta. A Câmara de Comércio da União Europeia na China planeja apresentar uma reclamação formal.
Setor de Defesa e Estratégias de Resiliência
No setor de Defesa, a startup americana ePropelled alertou que as restrições podem atrasar a produção e elevar custos. A empresa anunciou um acordo de desenvolvimento conjunto com a USA Rare Earth para reduzir impactos. A Associação Europeia de Aeroespacial e Defesa (ASD) reforçou a necessidade urgente de a Europa reduzir sua dependência de minerais críticos e tornar suas cadeias de suprimento mais resilientes.
Grandes empresas como Northrop Grumman e BAE Systems já vêm acumulando estoques e buscando fontes alternativas fora da China. Companhias ocidentais estão desenvolvendo cadeias de suprimento integradas, da mineração à fabricação de ímãs, como a parceria entre a Noveon Magnetics e a Lynas Rare Earths.
Expectativa de Negociação
Apesar das tensões, analistas mantêm a esperança de um acordo entre EUA e China. A VDA pediu que Bruxelas e Berlim “encontrem rapidamente uma solução viável” com o governo chinês. Baskaran, do CSIS, avalia que as novas regras, que entram em vigor apenas em 1º de dezembro, podem servir como uma tática de negociação, oferecendo um período de tempo considerável para discussões.
Fonte: Folha de S.Paulo