As taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) de curto prazo encerraram a quinta-feira com leves quedas. O movimento foi impulsionado pelo resultado abaixo do esperado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), indicador de atividade econômica do Banco Central, para agosto. Por outro lado, as taxas de juros de longo prazo avançaram, refletindo preocupações persistentes com a política fiscal brasileira. No cenário Internacional, os rendimentos dos Treasuries se firmaram em baixa durante a tarde.

No fechamento do pregão, a taxa do DI para janeiro de 2027 registrou 14,02%, com uma leve baixa de 1 ponto-base em relação ao ajuste de 14,031% da sessão anterior. Já entre os vencimentos mais longos, o contrato para janeiro de 2035 apresentou taxa de 13,725%, em alta de 4 pontos-base ante os 13,686% registrados anteriormente. Na véspera, o comportamento havia sido o oposto, com alta na ponta curta e queda acentuada na longa.
Fatores Internos e Externos Influenciam o Mercado
Segundo o analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, a queda na ponta curta, embora modesta, foi definida por uma combinação de fatores internos e externos. No início do dia, o Banco Central divulgou que o IBC-Br subiu 0,4% em agosto em relação a julho, na série dessazonalizada. Este número veio abaixo da projeção de 0,6% esperada por economistas ouvidos pela Reuters.

Na comparação anual, o IBC-Br apresentou alta de 0,1%, e no acumulado de 12 meses, registrou um ganho de 3,2%, de acordo com dados não dessazonalizados. “O IBC-Br de hoje, por mais que seja uma desaceleração esperada, veio abaixo do projetado. E como o debate sobre corte de juros em algum momento vai começar, isso ajuda a tirar pressão nos vértices mais curtos”, comentou Spiess.
Adicionalmente, a queda nos rendimentos dos Treasuries americanos contribuiu para o viés negativo na ponta curta da curva de juros brasileira. Spiess também destacou que os vértices mais longos continuam sendo influenciados pela tensão na área fiscal, com o Governo buscando uma alternativa para a medida provisória 1303.
Desafios Fiscais e Decisões do TCU
A medida provisória 1303 foi arquivada pela Câmara dos Deputados, o que gerou rombos nos Orçamentos de 2025 e 2026, a serem cobertos pelo governo. Uma solução para cobrir esses débitos ainda está em discussão. Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu a retomada pelo Congresso das partes consideradas “incontroversas” da MP. Em outra frente, o Tribunal de Contas da União (TCU) desobrigou o governo a buscar o centro da meta fiscal em 2025. A meta estabelecida é de resultado primário zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB). Embora a decisão do TCU seja vista como favorável ao governo, parte do mercado avalia que ela não contribui para a redução do risco fiscal.
Política Monetária e Perspectivas do BC
Neste cenário, a curva brasileira precificava em 99% a probabilidade de manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, prevista para o início de novembro. Durante um evento do UBS BB em Washington, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, afirmou que a instituição compreende que a política monetária atual está mais restritiva do que em ciclos anteriores e deseja que essa postura seja mantida. David lembrou que, no final de 2024, havia questionamentos sobre a eficácia da política monetária e a possibilidade de a economia brasileira estar em dominância fiscal, um entendimento que o BC nunca compartilhou. Por isso, segundo ele, o BC decidiu ser restritivo “além do que seria necessário de outra forma”. “Nós acreditamos que estamos mais restritivos do que em ciclos anteriores… e queremos continuar assim, e ver os efeitos defasados na economia. Esta é a fase em que estamos agora”, declarou.
Fonte: InfoMoney