A imposição de uma nova Rodada de tarifas dos Estados Unidos sobre a China pode acentuar a instabilidade global. Uma autoridade brasileira em Washington avalia que a escalada da rivalidade prejudica a busca por soluções negociadas, com impactos profundos no comércio, inovação tecnológica e na produção agrícola americana.

A análise, presente em um documento confidencial, destaca que a nova medida tarifária de Washington transcende o âmbito econômico, configurando-se como uma demonstração de poder e uma tentativa de reconfigurar a competição estratégica com Pequim. O governo dos EUA, sob a Liderança de Donald Trump, sinalizou a intenção de impor tarifas adicionais de 100% sobre produtos chineses a partir de novembro, elevando a sobretaxa já existente de 30%.
Em resposta, o Ministério do Comércio da China advertiu que o país está preparado para adotar “medidas firmes e correspondentes” caso os EUA não recuem em sua decisão, embora Pequim afirme não desejar uma guerra comercial.
Impacto no Setor Agrícola Americano
Os efeitos imediatos da tensão comercial foram sentidos nos mercados financeiros, com quedas expressivas nas bolsas americanas. No entanto, o setor agrícola dos EUA, especialmente os produtores de soja, figura entre os mais atingidos. A China, anteriormente o principal comprador de soja americana, reduziu drasticamente suas importações, desencadeando uma crise no Meio-Oeste e pressionando os preços e Custos de produção.

Produtores relatam a dificuldade em compensar a perda do mercado chinês com alternativas domésticas, como o uso de soja para biocombustíveis, que ainda representam uma parcela mínima da demanda. Especialistas alertam que a ausência prolongada no mercado chinês pode consolidar o Brasil e a Argentina como fornecedores preferenciais para Pequim.
O pacote de auxílio bilionário anunciado pelo governo Trump é visto por agricultores e especialistas como uma medida paliativa, insuficiente para resolver problemas estruturais de competitividade e dependência de mercados externos. A incerteza no agronegócio ameaça minar o apoio político de Trump em regiões rurais, com a viabilidade de fazendas familiares em risco.
Rivalidade Estratégica e Cadeias de Suprimentos
A disputa entre EUA e China se estende para além do comércio, abrangendo áreas como segurança e tecnologia. A possibilidade de Trump cancelar o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, sinaliza uma transição da cooperação para a confrontação aberta, com consequências globais.
Investidores temem a ruptura de cadeias de suprimentos estratégicas. Setores como o automotivo e o de tecnologia alertam para potenciais paralisações nos EUA caso o fornecimento de minerais raros — insumos essenciais para semicondutores, veículos elétricos e equipamentos militares — seja interrompido pela China. Pequim tem utilizado sua posição dominante no processamento desses minerais como ferramenta de pressão em negociações comerciais.
Retaliação e Consequências Econômicas
Em contrapartida às tarifas, Trump também implementou controles sobre a exportação de softwares críticos, demonstrando a disposição de Washington em retaliar. A autoridade brasileira enfatiza que essa escalada de tensões e a imposição de barreiras comerciais prejudicam a estabilidade econômica e podem gerar repercussões duradouras no cenário Internacional, afetando não apenas as economias diretamente envolvidas, mas também o fluxo global de comércio e investimentos.
Fonte: Folha de S.Paulo