O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem demonstrado um histórico de declarações voláteis, transitando entre elogios ao processo eleitoral e críticas à Justiça, além de recuos estratégicos em pautas sensíveis. Recentemente, após afirmar que não confiava na Justiça e que concederia indulto a Jair Bolsonaro no primeiro dia de um eventual mandato presidencial, Tarcísio voltou a elogiar o trabalho da Justiça Eleitoral em evento no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).

“É preciso fazer uma reflexão sobre o trabalho da Justiça eleitoral: um trabalho amoroso, profissional, de planejamento meticuloso, que envolve treinamento e logística para levar as urnas a cada canto do nosso estado e garantir que em todos os locais a eleição ocorra com tranquilidade”, declarou o governador.
Essa mudança de tom evidencia uma estratégia de equilibrista, marcada por um longo histórico de declarações controversas desde antes do início do mandato. Em dezembro de 2022, Tarcísio se distanciou do rótulo de “bolsonarista raiz”, alegando não ter intenção de entrar em “guerra ideológica e cultural”, apesar de compartilhar a agenda econômica liberal e a oposição ao aborto e à descriminalização das drogas. A repercussão negativa o levou a reforçar, nas redes sociais, sua “gratidão” ao ex-presidente.
Na prática, Tarcísio tem optado por pautas específicas, evitando temas como negacionismo climático e ataques ao Judiciário, que eram comuns no discurso de Bolsonaro. No entanto, ele buscou agradar sua base mais radical com a implementação de escolas cívico-militares e a Defesa de Bolsonaro em atos públicos.
Na área da segurança pública, o governador inicialmente relutou quanto ao uso de câmeras corporais por policiais militares. Contudo, diante da pressão gerada por flagrantes de abuso de autoridade, Tarcísio admitiu problemas na corporação, mas manteve a estrutura da secretaria e a cúpula policial, com destaque para o bolsonarista Guilherme Derrite.
Em outro episódio, durante a posse de Donald Trump, Tarcísio utilizou um boné de campanha do ex-presidente americano. A imagem gerou desconforto meses depois, com a imposição de tarifas econômicas por Trump sob alegação de “perseguição política”. Inicialmente, Tarcísio culou o PT, mas posteriormente recuou, priorizando os interesses de empresários paulistas.
Em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF), Tarcísio buscou manter pontes com ministros como Alexandre de Moraes, com o apoio de Michel Temer. Essa postura diplomática contrastou com Críticas de figuras como o pastor Silas Malafaia, que expressou desconfiança sobre a aproximação do governador com o STF.
Tarcísio Equilibrista: A Política Presidencial e o Mandato em SP
Apesar de negar publicamente a intenção de concorrer à presidência em 2026, Tarcísio de Freitas esteve aberto a essa possibilidade em conversas de bastidores e eventos privados. Promessas de indulto, articulações em Brasília e participações em atos reforçaram essa percepção de potencial candidato presidencial. No entanto, a estratégia mudou, e o governador tem sinalizado a aliados e em diversas frentes que seu foco principal são os próximos quatro anos de mandato em São Paulo.
Declarações Contraditórias e Ajustes de Rota
O governador tem se notabilizado por declarações que exigem ajustes posteriores. Pouco antes de assumir o Governo, afirmou: “Eu nunca fui bolsonarista raiz”, buscando distância de uma “guerra ideológica e cultural”. Essa fala causou crise em sua base de apoio, o que o levou a retificar posteriormente: “Eu sou bolsonarista e vou continuar sendo”.
Na segurança pública, Tarcísio expressou desdém inicial em relação a denúncias de letalidade policial, afirmando em março de 2024 que não estava “nem aí” para essas questões. Meses depois, admitiu o erro, mas manteve a permanência do secretário Derrite e da cúpula policial, mesmo diante da crise de letalidade.
Sua relação com as esferas federal e de oposição tem sido igualmente ambígua. Tarcísio foi visto ao lado do presidente Lula em eventos para anúncios de obras e parcerias de habitação, ao mesmo tempo em que participava de discursos mais radicais ao lado de Jair Bolsonaro. Essa dualidade reflete a complexa articulação política do governador.
A relação com o STF também passou por momentos de tensão. Em setembro, durante o julgamento de Bolsonaro, Tarcísio elevou o tom em um discurso na Avenida Paulista, afirmando que “ninguém aguenta mais a tirania” de Alexandre de Moraes. Essa declaração surpreendeu, considerando suas conversas anteriores com ministros do STF, mediadas por Michel Temer.
A proximidade com Donald Trump também gerou polêmica. Após vestir o boné de campanha “Make America Great Again”, Tarcísio se viu em uma posição desconfortável com o posterior “tarifaço” econômico imposto pelo ex-presidente americano. Inicialmente, o governador defendeu o presidente americano, mas depois reconheceu que a medida teria impacto negativo e defendeu negociações bilaterais.
Fonte: InfoMoney