Tribunal Militar: Presidente e colega trocam acusações de misoginia e tom paternalista

Presidente do STM critica colega por tom misógino em discordância sobre declarações acerca da ditadura militar. Entenda o caso.
Tom misógino ditadura militar — foto ilustrativa Tom misógino ditadura militar — foto ilustrativa

A presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Maria Elizabeth Rocha, acusou o colega brigadeiro Carlos Augusto Amaral Oliveira de usar um “tom misógino travestido de conselho paternalista” ao criticá-la por declarações sobre a ditadura militar. A divergência ocorreu após Rocha pedir perdão às vítimas do regime em um ato público.

Acusação de Misoginia e Paternalismo

Em pronunciamento na sessão da Corte Militar, a ministra Maria Elizabeth Rocha classificou a discordância de Oliveira como uma “Agressão desrespeitosa” que atinge a “magistratura feminina como um todo”. Ela refutou a sugestão do colega de que deveria “estudar um pouco mais” a história da instituição, afirmando conhecer a entidade há quase duas décadas.

Na semana anterior, durante um ato em memória do jornalista Vladimir Herzog, a presidente do STM havia se desculpado publicamente “pelos erros e omissões judiciais cometidos durante a ditadura”. O pedido incluiu nomes como Vladimir Herzog, Rubens Paiva, Miriam Leitão, José Dirceu e José Genoino, e foi feito em nome da Justiça Militar Federal em detrimento da democracia.

Rocha esclareceu que o pedido de perdão foi pessoal e institucional, realizado em sua capacidade como presidente do STM, e não representava a opinião de outros ministros. Ela enfatizou que o ato visava a responsabilidade pública e o dever cívico-republicano, configurando um gesto de reparação histórica e compromisso com o Estado Democrático de Direito, sem intenções político-partidárias.

Comparação com Casos Anteriores e Defesa do Currículo

A ministra comparou seu pedido de desculpas ao gesto do ex-presidente do STF, Luís Roberto Barroso, que pediu perdão em nome do Judiciário à Maria da Penha Fernandes. Rocha também citou seu próprio currículo para repelir desqualificações com viés de gênero, que historicamente buscam minimizar a autoridade de mulheres em posições de Liderança.

Ela reafirmou seu compromisso com o pronunciamento feito em homenagem a Herzog e agradeceu o apoio recebido após as declarações do brigadeiro Oliveira. Para Rocha, um pedido de perdão é um ato de maturidade democrática baseado em princípios universais de reparação.

Ministro do Superior Tribunal Militar (STM), Carlos Augusto Amaral Oliveira.
Brigadeiro Carlos Augusto Amaral Oliveira, colega da presidente do STM.

Reação de Oliveira e Rotação na Presidência do STM

O brigadeiro Amaral Oliveira declarou que sua manifestação foi um registro de indignação, negando qualquer intenção de dolo ou caráter misógino. Ele elogiou o currículo de Rocha, mas reiterou que ela não deveria falar em nome do STM por não representar a opinião de todos os membros. Oliveira sugeriu que Rocha realizasse uma reunião fechada para aferir o apoio dos demais ministros.

Em resposta, a presidente do STM afirmou que as considerações de Oliveira seriam registradas e reiterou sua posição sobre a importância de pedir e oferecer perdão. Ela concluiu declarando que “a paz não se aproxima daquele que a quer, mas daquele que a produz”, evitando confrontos diretos.

Maria Elizabeth Rocha é a primeira mulher a presidir o STM, tendo tomado posse em março. Sua ascensão à presidência enfrentou resistências, incluindo uma tentativa de alterar o regimento interno em 2013 para impedir seu Acesso. Em 2024, sua eleição para o cargo atual foi apertada, vencida por um voto de diferença.

Em Entrevista ao Valor em dezembro de 2024, Rocha defendeu as Forças Armadas, mas posicionou-se contra a atuação de militares na polícia. Ela também revelou que um familiar foi vítima da ditadura, mas optou por permanecer no Exército.

Fonte: Valor Econômico

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