Sigma Lithium adia expansão e mercado questiona liquidez da mineradora

Sigma Lithium adia expansão em MG devido à queda do preço do lítio e juros altos. Mercado se preocupa com liquidez da mineradora.
Sigma Lithium posterga expansão — foto ilustrativa Sigma Lithium posterga expansão — foto ilustrativa

A mineradora Sigma Lithium, com operações no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, decidiu adiar a expansão de seu projeto de produção de lítio. A decisão ocorre em meio à queda nos preços do mineral e ao aumento da taxa básica de juros, que levantam preocupações sobre a liquidez da empresa no Mercado.

A companhia havia recebido há 13 meses um financiamento do BNDES de R$ 486,7 milhões para as obras de ampliação. No entanto, a continuidade desses investimentos depende da consolidação do preço do carbonato de lítio em torno de US$ 10 por quilo, enquanto a média em setembro foi de US$ 9,26. Uma definição sobre o projeto de expansão deve sair em janeiro.

Contexto da Queda do Lítio e Juros Elevados

O lítio é um mineral essencial para a descabonização da economia, sendo um componente chave em baterias para veículos elétricos e dispositivos eletrônicos. Apesar de sua abundância natural, a oferta global tem aumentado significativamente nos últimos dois anos, impulsionada principalmente por países africanos com alta competitividade, o que resultou em uma forte queda nos preços internacionais.

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A segunda planta industrial da Sigma Lithium, anunciada para o início de 2024, tinha o objetivo de dobrar a capacidade de produção de concentrado de lítio, de 270 mil para 520 mil toneladas anuais. Embora obras preliminares como terraplanagem e parte da engenharia civil tenham sido realizadas, a encomenda das instalações de beneficiamento do mineral foi suspensa.

Um dos principais entraves para a continuidade do projeto de expansão é a necessidade de uma carta fiança exigida pelo BNDES, no valor de 130% do Empréstimo, totalizando R$ 632 milhões. Embora o financiamento do banco de desenvolvimento possua uma taxa de juros de 7,53% ao ano e prazo de 16 anos, a exigência da fiança eleva o custo total do projeto para aproximadamente 18% ao ano, tornando o investimento considerado arriscado pela direção da Sigma.

Adicionalmente, a unidade Fabril da Sigma já foi utilizada como garantia para outro empréstimo de US$ 100 milhões com um acionista, com vencimento no final de 2027, impedindo seu uso para a nova garantia. A escalada da taxa Selic, que subiu de 10,5% para 15% entre o fim de agosto de 2024 e o momento atual, também pressiona os Custos do financiamento.

Impacto no Preço do Lítio e Estratégias da Empresa

O preço do lítio sofreu um solavanco significativo entre abril e julho de 2024. A cotação média do quilo do carbonato de lítio, que estava em US$ 9,14 em março, caiu para US$ 7,47 em julho, uma retração de 18%. Essa queda foi influenciada por tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump, que desestabilizaram o mercado. Contudo, em agosto, a situação se reverteu parcialmente com a China não renovando licenças de operação de oito minas, levando a uma recuperação nos preços.

Diante da retração no segundo trimestre, a Sigma Lithium precisou estocar parte de sua produção, com a expectativa de escoar o material até o final do ano. A empresa declarou que está implementando medidas para reduzir custos e fortalecer sua posição competitiva. Em relação à carta fiança, a Sigma informou que não está em negociações com bancos nacionais no momento, devido ao impacto da taxa Selic nos custos da operação com o BNDES.

A mineradora planeja realizar alterações nas operações de sua mina Grota do Cirilo, em Araçuaí (MG), para prepará-la para suprir a demanda da futura unidade de processamento. A empresa pretende dobrar a capacidade de transporte com caminhões, visando uma redução de dois terços nos custos de produção. A direção da Sigma ainda mantém a projeção de que a expansão entrará em operação em 2026, com a necessidade de aproximadamente US$ 80 milhões (R$ 425 milhões) de investimentos adicionais.

Preocupações com Liquidez e Pagamentos a Fornecedores

A incerteza sobre a expansão e a volatilidade nos preços do lítio aumentaram a preocupação do mercado financeiro com a liquidez da Sigma Lithium. As ações da empresa, negociadas nos EUA, caíram quase 60% desde maio, saindo de US$ 18,56 para US$ 7,60.

Há alguns meses, a empresa tem enfrentado atrasos no pagamento a fornecedores. Recentemente, a Fagundes Construção e Mineração, prestadora de serviços na operação Grota do Cirilo, anunciou a paralisação de suas atividades na área, alegando um crédito acumulado de R$ 115 milhões a receber da Sigma. Segundo a Fagundes, a empresa investiu em pessoas e equipamentos, e apesar dos compromissos não cumpridos, honrará suas obrigações com seus empregados e fornecedores.

A Sigma Lithium explicou que, após as mudanças nas condições de mercado causadas pela política de tarifas de importação, implementou prazos de pagamento similares aos praticados por fabricantes asiáticas e ocidentais de baterias e carros elétricos, que variam entre 180 e 210 dias. A empresa também reforçou os controles internos para validação de cobranças e boletins de medição dos fornecedores. Os trabalhos na Grota do Cirilo foram temporariamente desmobilizados para substituição de equipamentos de mineração, com previsão de reinício das atividades esta semana.

Em agosto, analistas do Bank of America expressaram preocupação com a posição de caixa da Sigma Lithium, afirmando que o saldo atual estaria abaixo das despesas operacionais e do endividamento de curto prazo. No entanto, ponderaram que não há motivo para alarme imediato, já que a operação plena não consome caixa, mas limita a expansão. Os analistas destacaram a importância de assegurar pré-pagamentos de clientes para mitigar riscos existenciais em caso de problemas operacionais inesperados.

A Sigma Lithium reiterou seu compromisso com a disciplina de custos e eficiência operacional para garantir a sustentabilidade de longo prazo. A empresa espera firmar contratos de venda antecipada (offtake agreements) com tradings e usuários finais de lítio neste trimestre, buscando maior conforto financeiro.

Fonte: Estadão

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