Os Correios enfrentam uma crise financeira sem precedentes, acumulando 12 trimestres consecutivos de prejuízos. O rombo, que iniciou em R$ 121 milhões no terceiro trimestre de 2022, escalou para R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre de 2025, totalizando R$ 8,38 bilhões em perdas. A situação levou a estatal a buscar um Empréstimo de R$ 20 bilhões, com aval do Tesouro Nacional, operação vista com cautela por bancos e pela equipe econômica. Anteriormente, a empresa já havia contraído financiamentos no valor de R$ 550 milhões com bancos privados e um consórcio de bancos não revelados. Esse cenário contrasta com o passado lucrativo da empresa.
Receitas em Queda: O Legado da Pandemia e a Nova Concorrência
A Receita líquida dos Correios atingiu seu ápice em 2021, com R$ 21,3 bilhões, impulsionada pela aceleração do e-commerce durante a pandemia de COVID-19. No entanto, a partir de 2022, as receitas iniciaram uma trajetória de declínio, caindo para R$ 19,81 bilhões naquele ano e R$ 19,24 bilhões em 2023. Em 2024, a projeção anual aponta para R$ 18,9 bilhões, e no primeiro semestre de 2025, as receitas já somaram R$ 8,18 bilhões, indicando um possível resultado anual de R$ 16,36 bilhões.
A introdução do programa Remessa Conforme pelo Ministério da Fazenda em 2023, que legalizou a importação de produtos até US$ 50, impactou diretamente os Correios. Plataformas chinesas, antes isentas de impostos se enviassem por pessoas físicas, passaram a operar legalmente no Brasil, concorrendo diretamente com os serviços logísticos da estatal. Posteriormente, a aprovação da chamada “taxa das blusinhas” em 2024, com a taxação de 20% sobre compras de até US$ 50, também alterou o cenário competitivo. Em um ofício enviado ao Ministério das Comunicações, o então presidente dos Correios, Fabiano Silva Dos Santos, atribuiu a piora abrupta nas receitas de 2025 a essas mudanças nas regras de importação, que uniformizaram o tratamento tributário e beneficiaram empresas privadas.
Despesas Crescentes: O Peso da Estrutura e Reajustes Salariais
Paralelamente à queda nas receitas, os Correios viram suas despesas gerais e administrativas dispararem. Entre 2020 e 2024, esses gastos saltaram de R$ 2,72 bilhões para R$ 4,73 bilhões, um aumento de 73% antes de considerar a inflação. No primeiro semestre de 2025, as despesas já atingiram R$ 3,41 bilhões.
O contador Matheus Rodrigues aponta para uma estrutura de Custos inflada, com a folha de pagamento e obrigações previdenciárias atuando como âncoras fixas. Em 2023, houve um crescimento de R$ 894 milhões nas despesas com pessoal, impulsionado por um reajuste salarial de 6,57%, superior à inflação. Esse desequilíbrio se reflete no resultado operacional, que, após um superávit de R$ 2,7 bilhões em 2021, tornou-se negativo anualmente.
Análise de Mercado e o Futuro da Estatal
Especialistas em mercados de logística apontam que a inflexibilidade da folha de pagamento e os encargos históricos com fundos de pensão dificultam a adaptação dos Correios ao novo cenário competitivo. Enquanto as fontes de receita tradicionais encolhem e a concorrência privada ganha espaço no segmento de e-commerce, o Custo dos Serviços Prestados (CSP) permanece elevado.
A dependência de um modelo de negócio tradicional e a dificuldade em inovar frente a empresas privadas mais ágeis são desafios centrais. A busca por um empréstimo de R$ 20 bilhões sinaliza a gravidade da situação financeira e a necessidade urgente de medidas estruturais para reverter o quadro de prejuízos contínuos.
Fonte: Estadão