Padarias em São Paulo estão adotando robôs para realizar tarefas repetitivas e contornar a crescente escassez de mão de obra no setor. Na Villa Grano, o robô Virgulino, com 1,5 metro de altura, auxilia na entrega de pedidos e na recolha de louça, operando há mais de dois meses sem salário. Este investimento de R$ 92 mil visa reduzir o trabalho repetitivo dos funcionários e suprir a falta de pessoal.
A escassez é um problema crítico no setor. Segundo a Sampapão, entidade que representa padarias e confeitarias no Estado, existem mais de 30 mil vagas abertas apenas na capital paulista. A Villa Grano, por exemplo, tem oportunidades em diversas áreas, desde confeitaria e cozinha até atendimento comercial e manobrista.
Luis Ferreira, proprietário da Villa Grano, relata a dificuldade em contratar: “Está muito difícil, não conseguimos contratar”. Após a introdução de Virgulino, a padaria adquiriu mais três robôs, buscando melhorar a qualidade de vida dos seus quase 130 colaboradores. Ferreira enfatiza que a automação é um auxílio e não uma Substituição, permitindo que a equipe humana dedique mais tempo ao atendimento ao cliente.
A tecnologia atua como um complemento ao trabalho humano, liberando os profissionais de tarefas operacionais repetitivas. Pedro Teberga, especialista em desenvolvimento de negócios digitais, aponta que essa automação pode impulsionar uma mudança no perfil dos funcionários, que passarão a focar mais no relacionamento com o cliente. Ele observa que o consumidor brasileiro tende a aceitar bem essas inovações, mas reconhece que a máquina não substitui a simpatia humana.
Padarias Investem em Robótica para Otimizar Atendimento
A padaria Delícia de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, também incorporou um robô à sua operação. Com 18 anos de mercado e 150 funcionários, o estabelecimento está testando a máquina, que pode atender até três mesas simultaneamente. Fernando Reis, sócio da padaria, descreve o trabalho como colaborativo, visando acelerar processos. Apesar da precisão nas entregas, ajustes são necessários para garantir o posicionamento ideal do robô, que pode ser impactado por movimentações no ambiente.
Funcionários da Delícia de Perdizes relatam que o robô é particularmente útil nos horários de pico, embora não seja ideal para o espaço do buffet, onde há maior circulação de pessoas.
Kratus: Startup Lidera Fornecimento de Robôs para Panificação
A Kratus, startup responsável por fornecer robôs para a Villa Grano e a Delícia de Perdizes, já equipou outras seis padarias em São Paulo. Marcello Oliveira, sócio da Kratus, informa que o setor de panificação é o mais demandante, mas a empresa também atende restaurantes, hotéis, hospitais e redes de supermercado. Os robôs da Kratus se dividem em categorias como receptivos, comunicação, limpeza e logística, com aplicações que vão desde reposição de produtos em supermercados até transporte de bagagens em hotéis.
Oliveira destaca que os robôs funcionam como um “braço a mais”, ajudando a suprir a Falta de pessoal. Os equipamentos custam entre R$ 80 mil e R$ 120 mil, com opções de venda ou locação, incluindo manutenção. No entanto, Teberga ressalta o alto custo do investimento, comparando o valor de R$ 92 mil por um robô como Virgulino com salários de garçons, que podem variar de R$ 2,3 mil a R$ 7 mil mensais. Ele recomenda um estudo prévio do comportamento do consumidor para avaliar a adequação da robótica ao serviço.
O Futuro da Mão de Obra em Padarias: Robôs ou Salários Maiores?
Apesar das inovações, especialistas como Pedro Teberga e Rui Gonçalves, presidente do Sampapão, acreditam que os robôs não substituirão completamente os humanos no atendimento de padarias. A preferência por um atendente simpático e a capacidade humana de lidar com o imprevisível são fatores cruciais. Gonçalves aponta que o custo atual da tecnologia limita sua adoção a padarias maiores, prevendo que os robôs mais ajudarão na agilidade do atendimento do que suprirão a falta de pessoal.
Teberga sugere que o aumento salarial, especialmente em áreas pouco valorizadas, seria uma solução mais eficaz para a escassez de mão de obra. Ele reconhece, contudo, que esta é uma alternativa mais cara para os empresários. A automação, portanto, surge como um complemento viável, assumindo tarefas repetitivas e operacionais, mas sem substituir a interação humana essencial no setor.
Os estabelecimentos consultados, como a Villa Grano, descartam a redução do quadro de funcionários, reforçando que os robôs são ferramentas de apoio e não substitutos de pessoal.
Fonte: Estadão