A inflação no Brasil tem apresentado uma tendência de queda desde junho de 2025, confirmada pelo IPCA-15 de 0,18% divulgado recentemente. Essa desaceleração é observada também nos núcleos de inflação, que excluem os componentes mais voláteis de preços.
Um indicador relevante é o grupo de Serviços Subjacentes. Ele exclui itens sazonais, temporários ou regulados (como contas de serviços públicos e passagens aéreas) do grupo geral de Serviços. O restante, considerado serviços livres e menos voláteis, reflete com maior precisão o ciclo econômico e o aperto no Mercado de trabalho.

Mercado de Trabalho e Taxa de Juros
Uma das justificativas do Banco Central (BC) para manter a taxa de juros real em aproximadamente 10% ao ano por um período prolongado é a contínua queda na taxa de desocupação. Os dados dessazonalizados indicam que a taxa de desocupação atingiu 5,6% ou 5,8% no trimestre encerrado em agosto de 2025, o menor patamar desde março de 2012. Este nível estaria abaixo da taxa neutra de inflação (Nairu).
Estimativas recentes do BC sugerem que a Nairu caiu de cerca de 10% (média até 2016) para 8,25%. No entanto, simulações indicam uma queda mais acentuada, com a Nairu próxima a 7,0% no segundo trimestre de 2025, conforme estudos do Ibre/FGV.
Diversos fatores contribuíram para essa redução na taxa neutra de desocupação, incluindo a reforma trabalhista, o aumento da escolaridade, programas sociais, a regulamentação do Microempreendedor Individual (MEI) e o trabalho remoto/por aplicativos, tornando o mercado de trabalho mais flexível.
Riscos do Aperto Monetário
Considerando que o mercado de trabalho geralmente reage com defasagem à atividade econômica, a taxa de juro real atual eleva o risco de um aumento do desemprego acima do necessário para controlar a inflação. Isso pode gerar um custo social significativo e um impacto negativo na recuperação econômica.
Custo Fiscal e Política Monetária
Adicionalmente, o custo fiscal dessa política monetária restritiva é substancial. Simulações apontam que, entre 2023 e 2026, os juros reais podem adicionar R$ 1,7 trilhão à dívida pública, elevando-a para 83,4% do PIB em 2026. Essa trajetória pode aproximar a economia da dominância fiscal, cenário em que a política monetária perde sua eficácia no controle da inflação, pois as decisões de gasto público e dívida se tornam os principais determinantes da dinâmica inflacionária.
Fonte: Estadão