A divisão entre as principais economias avançadas durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington, expõe um risco crescente de uma nova crise financeira global. A falta de consenso sobre o reforço ou flexibilização da regulação do sistema financeiro preocupa autoridades e pode impactar economias emergentes como o Brasil.
Dois temas centrais dominaram os debates: as stablecoins – criptomoedas lastreadas em ativos seguros – e as instituições financeiras não bancárias (IFNBs), como gestores de fundos de investimento.
Enquanto países europeus, o Reino Unido e o Canadá defendem um reforço na regulação desses setores, os Estados Unidos optam por maior liberdade de atuação. O Brasil, por sua vez, alinha-se à posição que advoga por uma regulação mais abrangente e supervisão intensificada, visando garantir a estabilidade financeira.
Stablecoins e o Risco de Emissão Privada de Moeda
As stablecoins, apesar de prometerem inovações e eficiência com o uso de tecnologias como blockchain, representam, em essência, a emissão privada de moeda. Um desenho inadequado dessa estrutura pode levar à Substituição de moedas nacionais ou, pior, a crises de liquidez, remetendo a cenários do século 19.
Instituições Não Bancárias e o Papel no Fornecimento de Crédito
O crescimento expressivo das IFNBs nos últimos anos, que exercem função de prover crédito, também gera apreensão. Eventos como a crise do mini-Orçamento no Reino Unido, que exigiu intervenção de bancos centrais para oferecer liquidez, ilustram essa preocupação. O presidente do Banco Central, em falas recentes, comparou a situação à necessidade de uma autoridade monetária que, ao socorrer um paciente, também recomende hábitos saudáveis.
Divergências entre EUA e Europa Sobre Regulação
A divergência de opiniões se manifesta em diagnósticos distintos. Enquanto europeus percebem que o Mercado explorou brechas regulatórias, os americanos argumentam que o endurecimento pós-crise de 2008 levou ao surgimento de alternativas. A proposta dos EUA seria reduzir a regulação bancária, enquanto a visão europeia é de equiparar a regulação das IFNBs à dos bancos tradicionais.
Essa Falta de coordenação na regulação, supervisionada pelo Financial Stability Board (FSB), pode levar a uma disputa por regras mais frouxas, atraindo mercados internacionais. O Brasil, com um mercado mais fechado e regulamentação rigorosa, historicamente se protegeu de crises globais, como a de 2008. Contudo, a fragmentação financeira global é um risco que não isenta o país de impactos, caso a regulação nos EUA se mostre insuficiente para lidar com os riscos emergentes.
Fonte: Valor Econômico