As cadeiras dos conselhos de administração das companhias abertas no Brasil oferecem remuneração anual milionária, com valores, em média, quatro vezes maiores para quem ocupa os postos de presidência. Um dos setores listados na B3 chega a pagar para um presidente mais de R$ 16 milhões anuais.
O Diagnóstico vem da pesquisa “Liderança Empresarial – Conselhos de Administração 2025”, da consultoria de governança Vila Nova Partners. O mapeamento foi apresentado pelo sócio-fundador da empresa, Fernando Carneiro, durante painel no 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em São Paulo.
O relatório utilizou dados públicos e oficiais das companhias, como os publicados nos Formulários de Referência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), analisados entre julho e agosto de 2025. Envolveu 754 membros dos Conselhos de Administração de 81 empresas listadas.
Remuneração Média dos Conselheiros
Segundo o levantamento, a remuneração anual dos conselheiros dessas empresas, com exceção dos presidentes, teve aumento de 17% frente ao relatório de 2024. A média da remuneração anual chegou, atualmente, a R$ 1,1 milhão.
Para os presidentes desses colegiados, houve uma ligeira queda de 3% em relação ao mapeamento de 2024, mas a remuneração desses profissionais continua tendo robustez. O valor médio da remuneração anual registrado é de mais de R$ 4 milhões.
O setor de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações (TMT) é o que oferece menor remuneração anual aos conselheiros que estão na presidência. Já as empresas listadas no setor de Saúde são as que oferecem as remunerações mais volumosas. A quantia média da remuneração anual oferecida por esses setores, respectivamente, é de R$ 1,8 milhão e R$ 16,9 milhões.
O estudo pondera que o valor robusto no setor de Saúde — grupo que corresponde a 5% das empresas da amostra — é influenciado pela presença de uma companhia (sem nome divulgado), que oferece remuneração muito superior à média de Mercado, impulsionando o resultado. Se for considerada a mediana do setor, métrica que define a remuneração típica dos presidentes, o valor fica na casa dos R$ 7,8 milhões.
Atratividade e Demandas do Cargo
Os valores cada vez mais atrativos, especialmente no que se refere ao crescimento da remuneração dos membros subordinados ao presidente, tornam os postos competitivos no mercado. No entanto, é preciso ressaltar que esse aumento é proporcional à elevação das responsabilidades de um conselheiro atualmente.
“(A cadeira de conselheiro) está cada vez mais atrativa, mas é um posto muito demandante”, afirma Fernando Carneiro, sócio-fundador da Vila Nova Partners. “São muitas reuniões de conselho e de comitê. Muitas discussões e muita preparação prévia. É natural que isso demande e gere uma remuneração mais atrativa.”
Habilidades e Perfil dos Conselheiros
A exigência de um trabalho mais técnico nos conselhos se reflete na composição deles. Entre as cinco principais formações acadêmicas dos conselheiros estão, por ordem de ocorrência: Engenharia, Administração, Economia, Direito e Contabilidade. A maior parte das posições, 25%, é ocupada por profissionais com experiência em Finanças.
Com mandatos na faixa de dois anos, os conselhos de administração ficaram mais enxutos (com aproximadamente nove membros), se reúnem, em média, 14,5 vezes por ano, e cresceram em número de membros independentes: 45%, enquanto o porcentual há dez anos era de 25%. Para auxiliar os trabalhos dos colegiados, as empresas contam com, em média, quatro comitês de assessoramento. O mais frequente é o de Auditoria (89%), seguido pelo Comitê de Pessoas, Cultura e Remuneração (80%).
As habilidades técnicas refletem o peso e o compromisso exigido para o cargo. “(Ser conselheiro) demanda tempo e responsabilidade”, diz Carneiro. “É gente muito bem preparada e que tem que assumir uma responsabilidade fiduciária pela empresa.”
Quanto ao perfil, esse profissional é cada vez mais velho. A média de idade dos presidentes é de 63,2 anos, enquanto a dos demais membros é de 59,5 anos. A ocupação ainda é predominantemente masculina, com 21% das posições nos colegiados sendo ocupadas por mulheres: 3% delas, na presidência.
No quesito racial, os conselhos possuem somente 5% de membros autodeclarados negros — porcentual considerado baixo pelo estudo, tendo como base dados demografia brasileira. Cerca de 56% da população no País se autodeclara preta ou parda, segundo o Censo de 2022.
Sobre a diversidade de origem, um ponto é visto como alerta no estudo: a queda no porcentual de membros estrangeiros nos conselhos de administração. Neste ano, segundo o relatório, esses profissionais ocupam 9,4% das posições em conselho, e declaram ter nascido em países como França, Estados Unidos, Colômbia e Argentina.
Importância da Diversidade nos Conselhos
Para Carneiro, ter poucos profissionais de fora do Brasil nos conselhos é prejudicial para os movimentos de expansão e negociações internacionais das companhias.
“Temos uma quantidade muito grande de empresas no Brasil que são exportadoras, que lidam com mercados externos. Mas, às vezes, elas não têm um representante que conheça profundamente esses mercados. Então, se nós queremos estar mais inseridos no mercado global, é importante que essa representatividade também esteja nos conselhos de administração.”
Fonte: Estadão