PF Investiga Ligação da JBS com Lobista Suspeito de Vender Decisões no STJ

PF vai investigar relação da JBS com lobista suspeito de venda de decisões no STJ. Lobista alega ter recebido R$ 19 milhões em esquema que pode envolver a empresa.
JBS e lobista do STJ — foto ilustrativa JBS e lobista do STJ — foto ilustrativa

A Polícia Federal (PF) anunciou, em seu relatório parcial do inquérito sobre a suposta venda de decisões em gabinetes do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que abrirá um procedimento investigatório autônomo. O foco é apurar a relação do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves com o grupo JBS.

Andreson, considerado o principal alvo das investigações sobre venda e vazamento de decisões judiciais, declarou em mensagens analisadas pela PF ter recebido R$ 19 milhões para atuar em um processo que estaria ligado à companhia. As suspeitas se estendem a valores sob investigação recebidos da JBS pelo escritório da advogada Mirian Ribeiro, esposa de Andreson, identificados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Relação com Grupo JBS

O relatório, inicialmente divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo e obtido pela Folha, detalha que Andreson mencionou em um diálogo de 2020, segundo a PF, que o processo em que atuava estava relacionado ao “pessoal do sr. Zé Mineiro”, uma referência a José Batista Sobrinho, fundador da JBS e pai de Joesley e Wesley Batista.

A análise policial indica que Andreson teve Acesso à minuta de um voto de relatoria da ministra Nancy Andrighi, ainda não público na época, que tratava de um processo da J&F, controladora da JBS. Recentemente, um servidor investigado do gabinete da ministra, Márcio Toledo, foi exonerado pelo STJ. A magistrada, no entanto, não é alvo de investigação.

“A circunstância reforça que Andreson detinha Acesso privilegiado a minutas de decisão no âmbito do Superior Tribunal de Justiça”, afirma a PF em seu relatório. A corporação também consignou que, “diante da quantidade de informações que apontam para a relação de Andreson e Mirian Ribeiro com o Grupo JBS e a complexidade desses elementos probatórios, essa vertente será mais bem aprofundada em procedimento investigatório autônomo”.

Polícia Federal em ação.
Investigação da PF apura conexões entre lobista e grupo empresarial.

Posicionamento da JBS e Defesa

Em resposta, a JBS declarou que “qualquer pagamento feito ao escritório da advogada se refere a honorários — êxito ou pró-labore — em processos da empresa. Todos os serviços possuem efetiva comprovação nos autos desses procedimentos”. A empresa ainda informou que o escritório não presta mais serviços para a JBS.

A Defesa de Andreson e Mirian Ribeiro não se manifestou até o momento. O lobista encontra-se em prisão domiciliar, utilizando tornozeleira eletrônica, em Primavera do Leste (MT). A defesa de Márcio Toledo não foi localizada.

A ministra Nancy Andrighi, por sua vez, expressou perplexidade diante das denúncias e colocou seu gabinete à disposição para auxiliar na elucidação dos fatos. “Confio que a apuração realizada pelo Superior Tribunal de Justiça e as investigações das demais autoridades policiais servirão para esclarecer em definitivo o assunto e punir de forma exemplar os envolvidos”, declarou.

Fachada do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
STJ é o centro da investigação sobre venda de decisões.

Contexto da Investigação no STF

O relatório preliminar da PF, assinado pelo delegado Marco Bontempo antes de ele deixar o caso, visa consolidar as principais suspeitas. A investigação avança sobre gabinetes e pessoas próximas aos ministros, mas não sobre os magistrados em si.

O inquérito sobre a suposta venda de sentenças, que começou a partir da morte do advogado Roberto Zampieri em Cuiabá (MT) no fim de 2023, revelou conversas suspeitas entre Zampieri e Andreson. As mensagens indicavam relações entre empresários, desembargadores de Mato Grosso e servidores do STJ.

A investigação aponta que Andreson era contratado por empresários para atuar em seus processos judiciais, fazendo lobby com desembargadores e servidores. Em alguns casos, sua esposa, a advogada Mirian Ribeiro, formalizava a representação dos clientes e redigia documentos para viabilizar o esquema.

A PF pede a continuidade das investigações, ressaltando a importância da manutenção das medidas cautelares, como o afastamento de servidores investigados, para impedir a reativação do esquema e a utilização da estrutura estatal para fins criminosos. O inquérito principal sobre a venda de sentenças agora corre no gabinete do ministro Cristiano Zanin, no STF, para evitar nulidades e possíveis embaraços à investigação.

Fonte: Folha de S.Paulo

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