A recente autorização do Ibama para a Petrobras perfurar um poço na foz do rio Amazonas, às vésperas da COP 30 em Belém, gerou pouca repercussão pública. Se a mesma decisão ocorresse durante o governo Bolsonaro, o cenário seria de grande alarde, demonstrando uma hipocrisia velada onde certas ações só são aceitas sem tumulto quando vêm de um espectro político específico.
Repercussão e Hipocrisia Política
Diferentemente de ocasiões anteriores, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não se manifestou de forma contundente contra a medida. Ela classificou a decisão como “técnica”, ao passo que, no passado, demonstrava grande indignação com medidas similares durante os governos do Partido dos Trabalhadores. A ausência de protestos de artistas e celebridades internacionais, como Leonardo DiCaprio, contrasta com reações anteriores a questões ambientais.
O Petróleo como Motor de Desenvolvimento
A exploração de petróleo continua sendo um motor de sonhos de prosperidade e um tema central em discursos políticos. A campanha do PT sobre o “bilhete premiado do pré-sal” no início do século exemplifica essa visão. O discurso de Trump nas Nações Unidas, criticando a ideologia “verde” em detrimento de interesses nacionais, também ilustra essa tensão.
A Guiana, por exemplo, se tornou um dos países com maior crescimento econômico mundial após iniciar a exploração de petróleo na mesma bacia amazônica, evidenciando como o “ouro negro” ainda é visto como uma solução para a pobreza.
O Dilema Ambiental Brasileiro
O Brasil, com sua rica biodiversidade e vastos recursos naturais, deveria ser um modelo de economia verde. No entanto, as exigências de países ricos, que já degradaram seus próprios biomas, para que o Brasil não explore seus recursos naturais levantam questões sobre interesses econômicos e protecionistas velados. Essa pressão pode ter como objetivo prejudicar a competitividade de produtos brasileiros no mercado internacional, como os do agronegócio.
Diante desse cenário, o país enfrenta decisões cruciais sobre seu futuro energético e ambiental. Continuar a exploração de petróleo na Amazônia, investir em hidrelétricas, expandir o programa nuclear ou renunciar a receitas em nome da ecologia são dilemas que exigem respostas urgentes.
O Brasil tem a oportunidade de apresentar um novo paradigma para o mundo na resolução de impasses ecológicos, mas precisa encontrar um meio-termo aceitável entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. Essa decisão é um “big deal” que está em nossas mãos.
Fonte: Estadão