A megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortos, evidenciou a ausência da Polícia Federal (PF) e reacendeu o debate sobre o papel da instituição. Especialistas alertam que a proposta da PEC da Segurança, em tramitação no Congresso, pode sobrecarregar ainda mais a corporação, que já enfrenta dificuldades no combate ao crime organizado.
A PEC prevê que a PF passe a apurar infrações contra a ordem política e social, além de ampliar investigações contra organizações criminosas e milícias. Essa ampliação de atribuições ocorre sem uma reestruturação proporcional, segundo analistas, o que pode gerar brechas operacionais significativas.
Novos Encargos para a PF
Na gestão atual, a PF já assumiu duas responsabilidades anteriormente exercidas pelas Forças Armadas. A primeira foi a segurança do presidente da República e seus familiares. A segunda foi a coordenação do sistema de fiscalização de armas no país.
Para o ex-secretário nacional de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, o aumento de obrigações sem o devido reforço estrutural compromete a atuação da PF. O professor Rafael Alcadipani, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), corrobora essa visão, destacando que, embora a PF seja uma corporação bem preparada, a Falta de pessoal afeta sua operacionalidade.
Críticas à Atuação e Projeções Futuras
José Vicente da Silva Filho argumenta que a PF não tem cumprido integralmente sua incumbência constitucional de combater crimes transnacionais e facções, como o PCC e o Comando Vermelho, que se expandiram por todo o território nacional. Ele considera a PEC da Segurança inócua, pois a instituição não teria capacidade de atuar em questões tipicamente locais, como as milícias do Rio de Janeiro.
Marcos Vinícius Avelino, vice-presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), descreve a situação como um acúmulo de atribuições, com a contrapartida de pessoal e verba insuficientes. Ele ressalta que a PF é a polícia com mais deveres no mundo, executando tarefas que em outros países seriam divididas por até dez agências.
A entidade teme que a falta de condições do poder público em frear o avanço do crime organizado possa levar à repetição do cenário do Rio de Janeiro em outros estados. A aprovação da PEC, na visão da Fenapef, seria mais um complicador para a já sobrecarregada corporação.
Fonte: Estadão