A mineração de ferro no Brasil, tradicionalmente dominada pela Vale e por grupos familiares, tem atraído um novo perfil de investidores. Empresários de setores como financeiro, agronegócio e construção estão apostando no potencial de lucros altos, demanda global crescente por minério de alta qualidade e oportunidades de consolidação.
Quatro exemplos notáveis dessa nova onda de investidores são Daniel Dantas (Grupo Opportunity), Daniel Vorcaro (Banco Master), o grupo J&F (irmãos Joesley e Wesley Batista) e Lucas Kallas (Cedro Mineração). Embora longe de igualar a produção da Vale, que deve extrair cerca de 330 milhões de toneladas neste ano, esses novos players já representam grupos de médio a grande porte com planos de expansão significativos.
Juntos, os novos entrantes já produzem cerca de 30 milhões de toneladas de minério de ferro e projetam alcançar 65 milhões de toneladas até 2030. Rafael Marchi, especialista em mineração da Alvarez & Marsal, aponta as altas margens (40% a 50%), a geração de caixa e a venda em dólar da commodity como fatores de atração para a diversificação de negócios.
Novos Players na Mineração Brasileira
A entrada desses investidores traz não apenas capital, mas também novas perspectivas de gestão para o setor. A compra da Itaminas pelas famílias Gontijo, Géo e Vorcaro, por exemplo, representa uma oportunidade de reestruturação de uma empresa que enfrentava dificuldades financeiras.
Contudo, o setor apresenta desafios consideráveis. Requer capital intensivo, Acesso a infraestrutura logística robusta (ferrovias e portos) e a mercados internacionais. A dependência exclusiva do mercado interno pode ser um gargalo, pois as vendas domésticas são, em geral, direcionadas a grandes mineradoras como Vale, Gerdau e CSN Mineração.
A fase atual do Mercado de minério de ferro, com preços elevados desde 2019, impulsionada em parte pelas restrições após o rompimento da barragem de Brumadinho, criou um ambiente favorável para novas oportunidades. Margens superiores a 30% continuam a ser um atrativo significativo.
Planos Ambiciosos do Grupo J&F
O grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, intensificou sua atuação na mineração ao adquirir ativos da Vale em Mato Grosso do Sul por US$ 1,2 bilhão. A LHG Mining, empresa criada para gerir a operação, já aumentou a capacidade de produção de menos de 3 milhões para 12 milhões de toneladas anuais. O objetivo é atingir 25 milhões de toneladas até 2030.
Essa expansão é impulsionada pela crescente demanda mundial por minério de ferro de alta qualidade para a fabricação de aço com menor emissão de carbono. Um investimento de R$ 8 bilhões está previsto para ampliação das minas, unidades de beneficiamento e do sistema de transporte. O BNDES já aprovou um financiamento de R$ 3,7 bilhões para a LHG Logística, focado na modernização da infraestrutura hidroviária.

Cedro Mineração Visando o Mercado Internacional
O empresário Lucas Kallas, através do grupo Cedro, planeja se tornar um grande produtor de minério de ferro no Brasil até o final da década. Com minas em Minas Gerais e um porto em construção em Itaguaí (com conclusão prevista para 2029), a Cedro almeja produzir mais de 20 milhões de toneladas anuais a partir de 2030, com foco em exportação direta.
A estratégia da Cedro envolve o arrendamento de reservas vizinhas da Vale e a consolidação de pequenas produtoras. O foco é na produção de pellet-feed de alta qualidade, um insumo essencial para a descarbonização da indústria siderúrgica. A empresa avalia também a aquisição da Bahia Mineração (Bamin), embora o negócio enfrente desafios significativos devido ao alto investimento necessário.
Itaminas Sob Nova Gestão e Expansão
A Itaminas, fundada em 1958, foi vendida em julho do ano passado para três empresários mineiros, liderados pelo banqueiro Daniel Vorcaro. Com um plano de investimentos de R$ 1,5 bilhão até 2033, a empresa busca aumentar sua produção de minério de alto teor e modernizar suas instalações. Um novo terminal de embarque foi firmado com o Porto Sudeste, no Rio de Janeiro, com um contrato que prevê o escoamento de 4 milhões de toneladas anuais.
O objetivo da Itaminas é exportar diretamente para o Oriente Médio e China, além de fornecer para clientes no Brasil. A empresa já expandiu acordos para se tornar fornecedora de minério de alto teor para clientes na região de Abu Dhabi. No curto prazo, a mineradora prevê um aumento significativo na produção, passando de 8 milhões de toneladas em 2025 para 10 milhões no ano seguinte.
O plano de crescimento inclui o arrendamento da Mina Jangada, da Vale, e uma nova rodada de captação de recursos. A expectativa é que, a partir de 2033, a Itaminas produza 15 milhões de toneladas por ano, com 70% desse volume sendo minério tipo pellet-feed, com alto teor de ferro e valor de mercado superior.
Bemisa e o Desafio Logístico de Dantas
A Bemisa, mineradora do Grupo Opportunity, planeja investir R$ 100 milhões para montar uma nova operação, Pedra Branca, em João Monlevade (MG), o que deve elevar sua capacidade de produção em 50%, para 6 milhões de toneladas anuais.
O plano original de Daniel Dantas incluía um projeto de mineração de grande porte no Piauí, com potencial de produção superior a 20 milhões de toneladas. Contudo, a falta de infraestrutura logística para escoamento tem sido um entrave. A conclusão da ferrovia Transnordestina, prevista para 2028, pode ser uma alternativa futura para viabilizar o projeto, conectando o Piauí ao Porto de Pecém, no Ceará.
Fonte: Estadão