Philippe Aghion, um dos recém-condecorados com o Prémio Nobel de Economia, compartilhou suas emoções e surpresas com a Folha, afirmando que ainda se sente “fora da realidade” após receber a honraria. A conquista veio após anos de especulações sobre seu nome, mas Aghion revela que não esperava o reconhecimento este ano, pois os laureados do ano anterior exploravam temas semelhantes.


O anúncio surpreendente chegou em uma manhã de segunda-feira, quando o celular de Aghion indicou uma chamada com o código da Suécia. Aos 69 anos, o economista, que divide o prêmio com Peter Howitt e Joel Mokyr, expressou sua emoção ao ser aplaudido de pé por seus alunos no Collège de France, onde leciona sobre a relação entre crescimento populacional e econômico. “Fiquei muito emocionado com os aplausos, nunca tive isso na vida”, relatou.
Impacto no Calendário Acadêmico
A premiação, embora não tenha levado ao cancelamento de suas aulas já agendadas, exigirá ajustes na rotina de Aghion. Ele precisará passar uma semana em Estocolmo em dezembro para a cerimônia de entrega e o jantar oficial, que inclui uma palestra e a presença da realeza sueca. Aghion brincou com a ascendência francesa da família real sueca, traçando um paralelo bem-humorado com suas próprias origens.
A família real sueca tem suas raízes em Jean-Baptiste Bernadotte, um general napoleônico que se tornou herdeiro do trono sueco. Philippe Aghion, por sua vez, é filho da renomada estilista Gaby Aghion, fundadora da grife Chloé.

Contribuição Teórica Premiada
O reconhecimento Internacional se deve, em grande parte, a um artigo publicado em 1992 por Aghion e Howitt. O trabalho propôs um modelo matemático fundamental para explicar o conceito de “destruição criativa”, essencial para a dinâmica econômica, onde a inovação de produtos e tecnologias superiores leva à obsolescência e ao declínio daqueles que vieram antes.
A relevância do trabalho de Aghion é tamanha que uma fila se formou para assistir à sua aula pública no Collège de France, uma instituição de ensino prestigiada e de Acesso livre. A oportunidade de ver um laureado com o Nobel ministrando uma aula no dia seguinte à premiação atraiu grande público.

Visão Política e Econômica
Philippe Aghion demonstra uma proximidade política com o presidente francês, Emmanuel Macron, e alinha-se a ideias econômicas consideradas conservadoras. Ele se opõe à proposta de uma “taxa Zucman”, um imposto sobre grandes fortunas defendido por economistas de esquerda.
Adicionalmente, Aghion manifestou sua posição contrária à suspensão da controversa reforma da previdência francesa, que elevou a idade de Aposentadoria. Contudo, ele demonstrou compreensão pela decisão governamental de congelar a reforma até as eleições presidenciais de 2027, citando a necessidade de evitar custos políticos maiores. “Minha visão é puramente econômica: num mundo ideal, vivemos mais tempo, temos que trabalhar mais tempo”, ponderou, reconhecendo as complexidades políticas.
Desafios da Fama Pós-Nobel
O economista expressou preocupação com as mudanças de rotina que o Nobel trará. Citando conselhos recebidos de Jean Tirole, outro Nobel de Economia francês, Aghion foi alertado sobre a euforia inicial que pode, eventualmente, dar lugar a períodos de desânimo. Ele confessou que pretende evitar o acompanhamento constante das redes sociais para gerenciar essa nova fase de sua carreira.
Fonte: Folha de S.Paulo