As ações de mineradoras de ouro estão em uma ascensão surpreendente, superando o desempenho de ativos como o bitcoin e as grandes empresas de inteligência artificial. Essa performance impulsiona um setor historicamente visto com ceticismo, beneficiando-se da forte valorização dos metais preciosos.



Desempenho Recorde e Lucros Robustos
O índice S&P Global Gold Mining acumula uma impressionante alta de 126% no ano, liderando entre todos os setores monitorados pelo S&P. Empresas como Agnico Eagle, Barrick Mining e Newmont estão colhendo os frutos dessa valorização, que se deve em grande parte à alta de 52% no preço do ouro desde o início de janeiro.
“Tem sido um ano muito bom para as ações de mineradoras de ouro”, afirma Imaru Casanova, gestora da VanEck. “Elas têm mais dinheiro do que sabem o que fazer com ele.” Essa abundância de caixa levanta, contudo, questões sobre a manutenção da Disciplina financeira, um fantasma do passado recente do setor.
Lições do Passado e Sinais de Prudência
O setor de mineração de ouro ainda carrega as cicatrizes da “corrida do ouro” após a crise financeira global de 2008. Naquela época, o aumento dos lucros alimentou fusões e aquisições, bônus milionários e Custos de produção inflados. O ajuste posterior foi severo, com as ações de mineradoras de ouro despencando 79% entre 2011 e 2015.
“Muito valor foi destruído”, relembra Casanova. “Na cabeça dos investidores, isso ainda está fresco. As empresas aprenderam com os erros do ciclo anterior? Ou vão repeti-los?” A Memória desse ciclo adverso gera cautela, com gestores cobrando prudência.

Ouro Dispara e Mineradoras Superam Metais Preciosos
O ouro atingiu e superou a marca de US$ 4.000 por onça nesta semana. A valorização é impulsionada pela paralisação do governo americano, pela forte demanda de bancos centrais e pelas crescentes preocupações com o endividamento soberano global. As ações das mineradoras, no entanto, têm apresentado um desempenho ainda superior ao do próprio metal. Isso ocorre porque, com custos de produção relativamente fixos, o aumento do preço do ouro se traduz diretamente em margens de Lucro mais altas para essas companhias.
Para se ter uma ideia, a Agnico Eagle já acumula alta de 113% no ano, a Barrick, de 114%, e a Newmont, de 134%. A Zijin Gold viu suas ações dobrarem de valor desde sua estreia em 30 de setembro. Em comparação, a Nvidia subiu 40%, a Oracle, 72%, a Alphabet (Google), 30%, e a Microsoft, 25%. O bitcoin, por sua vez, valorizou 31%.
Pressão por Disciplina e Alocação de Capital
A atual conjuntura de alta demanda e preços recordes pressiona as mineradoras a demonstrarem disciplina financeira. A recente troca de presidentes-executivos em empresas como Newmont e Barrick sinaliza a pressão do Mercado por melhor desempenho acionário. O BMO Capital Markets projeta um fluxo de caixa livre de US$ 60 bilhões para o setor no próximo ano, gerando um debate sobre a melhor alocação desses recursos.
Evy Hambro, chefe de investimentos temáticos da BlackRock, defende que a prioridade seja devolver capital aos acionistas, seja através de dividendos ou recompras de ações. “Melhor ainda seria permitir que os acionistas recebessem em um ETF lastreado em ouro, em vez de apenas dólares ou outras moedas”, sugeriu.
A tentação por novas aquisições, contudo, é um risco latente. A escassez de novas minas pode impulsionar a consolidação do setor. Operações de fusão por troca de ações, como a união entre Anglo American e Teck Resources, são apontadas como um modelo para o futuro.
Remuneração de Executivos e o Risco de Exagero
Outra fonte de preocupação é a remuneração dos executivos. Historicamente, os dirigentes de mineradoras estão entre os mais bem pagos do setor. Marcelo Kim, sócio da Paulson & Co e atual presidente da Perpetua Resources, criticou no passado o pagamento de valores “excessivos” a dirigentes. “Espero que ninguém receba pacotes milionários só porque o preço do ouro subiu. Isso não é mérito deles”, disse. “Mas, se fizerem as coisas certas, vão ganhar rios de dinheiro.”
Fonte: Folha de S.Paulo