A ala do MDB que apoia a reeleição do presidente Lula (PT) no Nordeste enfrenta desafios em suas alianças locais com o PT. Os membros do MDB detêm a vice-governadoria em quatro estados da região onde governadores petistas estão no poder, mas correm o risco de perder essas posições na eleição de 2026.
A segunda posição nas chapas eleitorais adquire importância estratégica na Bahia, no Piauí e no Ceará. Caso os governadores do PT consigam a reeleição nesses locais, a tendência é que os vices assumam o Governo em 2030, o que lhes conferiria a vantagem de controlar a máquina estadual e disputar a eleição para o Executivo. No Rio Grande do Norte, o candidato será do PT, mesmo com o vice sendo do MDB e governando o estado durante o período eleitoral.
Um dirigente do MDB, que prefere não se identificar, avalia que a postura do PT nesses estados prejudica a ala pró-Lula dentro do partido. Assim como em pleitos anteriores, há uma divisão regional entre os emedebistas. Enquanto o Nordeste e parte do Norte defendem o apoio ao presidente e almejam a vice-presidência nacional com nomes como o ministro Renan Filho (MDB-AL) ou o governador Helder Barbalho (MDB-PA), os diretórios do Sudeste, Sul e Centro-Oeste sinalizam interesse em apoiar uma candidatura de oposição.
Decisão da Convenção Nacional do MDB
A definição final sobre o apoio presidencial ocorrerá na convenção nacional do MDB. Uma possível alternativa é a liberação de cada estado para apoiar o candidato de sua preferência, em vez de um fechamento nacional.
Por outro lado, integrantes do PT demonstram otimismo com o desempenho de Lula e dos governadores petistas no Nordeste no próximo pleito. A leitura é que, apesar de um bom relacionamento com o MDB, a dinâmica política local de cada estado prevalece na formação das chapas, especialmente considerando que o PT pode não fechar apoio a Lula nacionalmente.
Disputas Regionais e o Caso Piauí
O Piauí apresenta o caso mais emblemático. O governador Rafael Fonteles (PT) informou oficialmente ao MDB que seu vice na eleição de 2026 será um petista, em contraposição à atual vice, Themístocles Filho (MDB).
O senador Marcelo Castro (MDB) reconheceu que o MDB não ficou satisfeito com a decisão, mas aceitou a realidade política. Ele destacou a importância da posição de vice para o partido, que garantiria o controle do governo estadual em 2030 caso o governador renunciasse. “A perda do MDB é muito grande”, afirmou.
Eunício Oliveira: Senado em vez de Vice-Governadoria
O deputado federal Eunício Oliveira (MDB-CE) argumenta que os diretórios nordestinos do MDB são mais alinhados a Lula do que ao PT como partido. Ele minimiza os atritos, prevendo que os emedebistas continuarão nas chapas governistas, mesmo com mudanças na vice-governadoria.
“No Piauí, o Marcelo será candidato a senador com o apoio do PT. Em qualquer cenário, é natural que o MDB prefira o Senado do que vice. O que dá destaque ao partido é governador, senador e deputado”, explicou Eunício. Ele citou o Ceará, onde o MDB cedeu a vaga de vice para garantir uma vaga de senador.
Conflitos por Vagas no Senado na Bahia e no Ceará
A disputa por espaços nas chapas é acirrada, especialmente para o Senado. No Ceará, além de Eunício e do petista José Guimarães, o senador Cid Gomes (PSB) também manifesta interesse.
Na Bahia, o cenário é similar. Há três pretendentes para duas vagas de senador: os senadores Jaques Wagner (PT) e Ângelo Coronel (PSD), e o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT). Uma solução ventilada seria oferecer a vaga de vice-governador para o PSD, em detrimento da manutenção de Geraldo Júnior (MDB) na chapa com Jerônimo Rodrigues (PT).
O ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB) expressou Confiança na manutenção da vice-governadoria, ressaltando a lealdade do MDB ao governo e ao governador. Ele sugere que a disputa se concentra nas vagas de senador e que o MDB pode ser liberado para apoiar diferentes candidaturas presidenciais em virtude da ausência de uma candidatura própria unificadora.
MDB do Rio Grande do Norte fora da disputa pelo governo
No Rio Grande do Norte, o MDB não lançará candidato ao governo, mesmo com o vice-governador Walter Alves (MDB) assumindo o posto durante o período eleitoral. Alves declarou que não tentará a reeleição, focando em fortalecer as chapas de deputados federais e estaduais.
A governadora Fátima Bezerra (PT) buscará uma vaga no Senado. O candidato à sucessão de Fátima será o secretário da Fazenda potiguar, Carlos Eduardo Xavier (PT).
Fonte: Estadão