Marcos Mendes: Ajuste fiscal improvável com Lula ou oposição

Marcos Mendes avalia que ajuste fiscal é improvável com Lula (chance zero) ou oposição (marginal), em meio a cenário de populismo fiscal global.
Ajuste fiscal no Brasil — foto ilustrativa Ajuste fiscal no Brasil — foto ilustrativa

O economista Marcos Mendes expressou baixa expectativa sobre a implementação de um ajuste fiscal no Brasil em 2027, após as eleições presidenciais de 2026. Segundo ele, a chance de reequilíbrio das contas públicas seria zero caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja reeleito. Mendes classificou um possível ajuste fiscal sob a gestão de Lula como um “tremendo estelionato eleitoral”, pois o Governo não faria campanha com propostas de austeridade, mas sim com promessas de mais gastos.

Em contrapartida, se a oposição vencer, Mendes vislumbra uma chance apenas “marginal” de um ajuste efetivo. No entanto, ele alerta que tal medida seria insuficiente para frear a escalada da dívida pública e a alta da taxa de juros de equilíbrio no país.

A análise do economista se insere em um contexto global de “populismo fiscal”, marcado por agendas de expansão de gastos nas principais economias mundiais. A polarização exacerbada pelas redes sociais, segundo Mendes, dificulta ainda mais a implementação de medidas de austeridade por parte dos governantes.

Cenário de populismo fiscal e suas consequências

Marcos Mendes detalha que o populismo fiscal se manifesta de duas formas: entrega de benefícios no curto prazo sem preocupação com os custos futuros e a criação de inimigos para mobilizar a militância e culpar terceiros pelos problemas. Ele avalia que o cenário para o Brasil aponta para um ajuste fiscal realizado “da pior forma”, através do aumento da inflação, atuando como um “calote disfarçado”. Nesse contexto, o Banco Central poderia eventualmente “jogar a toalha” no controle de preços.

Visão para a reeleição de Lula e para a oposição

Na hipótese de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, Mendes é categórico ao afirmar que a chance de um ajuste fiscal é nula. Ele argumenta que a campanha eleitoral sob essa premissa seria um “estelionato”, uma vez que o foco seria em promessas de mais benefícios, como já ocorreu em campanhas anteriores e na gestão atual.

Para um eventual governo de oposição, as perspectivas são ligeiramente melhores, mas ainda assim limitadas. Mendes prevê um ajuste fiscal “marginal”, que não seria suficiente para conter a trajetória ascendente da dívida pública e a taxa de juros de equilíbrio. Ele justifica essa visão pela provável necessidade de compor alianças com o Centrão, um grupo político associado a políticas de expansão fiscal, como emendas parlamentares e benefícios setoriais.

Desafios para o ajuste fiscal no Brasil

Mendes ressalta que a sociedade brasileira ainda não demonstra maturidade para aderir a tetos de gastos, citando exemplos anteriores de descumprimento. Ele defende que o governo deve focar em reformas estruturais, como a política de salário mínimo, que tem impacto significativo na Previdência e assistência social. A desindexação de despesas em relação à Receita, a reforma do microempreendedor individual (MEI) e a revisão de benefícios tributários são outras medidas cruciais.

A coordenação entre o Poder Executivo e Legislativo, aliada a uma forte capacidade política, seria essencial para construir coalizões e aprovar reformas necessárias. A dificuldade em dialogar em um ambiente polarizado e dominado pelas redes sociais também é apontada como um grande obstáculo para a implementação de uma agenda fiscal sólida.

O papel do Judiciário e das emendas parlamentares

O economista também critica a politização do Judiciário e a judicialização de políticas públicas, que, segundo ele, podem expandir gastos desnecessariamente. As emendas parlamentares, que representam uma parcela significativa do Orçamento público no Brasil, são vistas como um fator de desequilíbrio na competição eleitoral e um entrave para a austeridade fiscal.

Em comparação com o governo Dilma Rousseff, Mendes observa que, embora a dívida pública fosse menor na época, a falta de preparo da sociedade para lidar com as consequências de políticas fiscais irresponsáveis levou a um estrago maior. Atualmente, com a dívida em patamares mais elevados, o impacto de desequilíbrios fiscais pode ser ainda mais severo.

O risco da inflação como ajuste

O pior cenário, segundo Mendes, seria o ajuste fiscal ocorrer via inflação, com o Banco Central eventualmente cedendo ao controle de preços e desancorando as expectativas. Ele refuta a ideia de que os gastos com juros do Banco Central são a causa principal do problema fiscal, enfatizando que o déficit primário exige maior endividamento e que o retorno ao superávit primário é fundamental.

A complacência do mercado financeiro com a questão fiscal é outro ponto de preocupação, pois crises podem surgir abruptamente, desestabilizando a confiança e alterando o cenário econômico. Mendes conclui que o Brasil não pode mais adiar o enfrentamento dessa agenda fiscal urgente, apesar das reformas realizadas nos últimos anos, que, embora tenham evitado uma crise pior, não garantiram o crescimento econômico nem o equilíbrio das contas públicas.

Fonte: Estadão

Adicionar um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Imagens e vídeos são de seus respectivos autores.
Uso apenas editorial e jornalístico, sem representar opinião do site.

Precisa ajustar crédito ou solicitar remoção? Clique aqui.

Publicidade