Lucros das Big Techs: Como o Sistema Financeiro Explica a Mais-Valia Digital

Analise como o sistema financeiro e o conceito de ‘mais-valia’ explicam os lucros bilionários das big techs, explorando a economia dos dados e seus desafios.
mais valia big techs — foto ilustrativa mais valia big techs — foto ilustrativa

Um tema antigo, familiar ao sistema financeiro, oferece uma analogia valiosa para compreender a economia digital e os lucros das grandes empresas de tecnologia, as chamadas ‘big techs’. Essa analogia se refere ao sistema de reservas fracionárias.

Originado nos primórdios da história do dinheiro, o sistema de reservas fracionárias é polêmico. Os bancos mantêm em caixa apenas uma fração dos depósitos recebidos. Essa prática permite que utilizem recursos que, em teoria, não lhes pertencem para gerar lucros, sem necessariamente repartir integralmente esses ganhos com os depositantes.

O Sistema de Reservas Fracionárias e a Analogia Digital

O funcionamento dos bancos baseado em reservas fracionárias, embora controverso, oferece lições importantes, especialmente em períodos de instabilidade financeira. Essa dinâmica serve como um ponto de partida para entender o que ocorre no universo digital, onde empresas acumulam vastos volumes de dados. Com esses dados, criam riqueza significativa, mas nem sempre remuneram de forma justa os criadores originais dessas informações.

Essa semelhança com o sistema de reservas fracionárias é notável: a captação de um recurso (depósitos ou dados) para gerar valor adicional.

A Natureza dos Dados na Economia Digital

A economia digital apresenta complexidades únicas. Os ‘dados’ compartilham características com ‘bens públicos’, definidos na economia por suas propriedades de ‘não rivalidade’ e ‘não exclusão’. Isso significa que o uso de um dado, ao contrário do dinheiro, não diminui sua disponibilidade nem impede que outros o utilizem.

Um exemplo claro é uma Música: seu consumo não reduz a oferta nem impede que outros a escutem, diferente do dinheiro, cujo uso é finito. Contudo, em um aspecto crucial, dados e dinheiro são similares: o proprietário busca otimizar seu uso para obter o máximo benefício. Investidores buscam o melhor retorno para seu dinheiro, assim como criadores de conteúdo buscam o melhor proveito para suas canções, vídeos ou informações comerciais valiosas.

Debates Sobre a ‘Mais-Valia’ Digital e o Spread Bancário

Muitos argumentam que as big techs geram uma forma de ‘mais-valia digital’ ao utilizarem dados pelos quais não pagam diretamente, produzindo riqueza que não é plenamente revertida aos seus donos originais. Por outro lado, há quem sustente que a gratuidade de serviços oferecidos pelas empresas já configura uma forma de pagamento. Essa discussão é paralela ao debate sobre o spread bancário, onde se questiona se a taxa cobrada pelos bancos em empréstimos é desproporcional à remuneração oferecida aos depositantes, desconsiderando o risco da inadimplência.

Formando Paradigmas na Era da IA

As discussões sobre a remuneração de dados e a tributação de Publicidade dirigida estão apenas começando no mundo digital, ao contrário do setor financeiro, que já possui debates mais maduros e algumas soluções. Na academia, prêmios Nobel foram concedidos por propostas como a organização de donos de dados para negociação de royalties e a tributação da publicidade direcionada.

Com a crescente importância da Inteligência Artificial, que demandará volumes massivos de ‘dados’, a definição de novos paradigmas econômicos e regulatórios torna-se cada vez mais urgente.

Fonte: Estadão

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