A aproximação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ganha contornos diplomáticos importantes com a iminente conversa entre os dois líderes. Embora a situação da Venezuela e da Colômbia deva ser abordada, o verdadeiro interesse de ambos reside nas questões que afetam diretamente o Brasil e os Estados Unidos.
Trump, em sua estratégia política, tem intensificado suas Críticas à Venezuela e, mais recentemente, à Colômbia. Dada a relevância do Brasil como potência regional, Lula não pode simplesmente ignorar essas manifestações em seu próximo encontro com Trump, previsto para ocorrer na Malásia. No entanto, a prioridade absoluta do Brasil deve ser seu próprio território e seus interesses nacionais.
Lula deverá, em tom formal, expressar sua preocupação com as ações contra os países vizinhos. Contudo, o foco principal de sua agenda será a consolidação do diálogo com os EUA e a busca pela remoção de sanções econômicas e políticas que prejudicam o Brasil. A Defesa de Venezuela e Colômbia, embora importante, não deve comprometer o avanço nas relações bilaterais com os Estados Unidos e o fim de sanções arbitrárias.
Polarização na América do Sul e o Papel do Brasil
A dinâmica política na América do Sul tem sido marcada por mudanças significativas. Enquanto países como a Bolívia elegeram governos de centro-direita, a Argentina enfrenta suas crises habituais, buscando financiamento internacional. Nesse cenário, as relações entre Trump e o atual Governo colombiano, liderado por Gustavo Petro, têm se deteriorado em meio a acusações sérias, incluindo a ameaça de intervenção dos EUA na Venezuela.
As declarações de Trump, que chegou a rotular o presidente colombiano Gustavo Petro como um “líder do narcotráfico”, e a resposta contundente de Petro, chamando Trump de “ignorante”, elevaram a tensão diplomática na região. A Colômbia, um aliado histórico dos Estados Unidos, convocou seu embaixador em Washington para consultas, indicando um forte descontentamento.
O risco dessas disputas transcende as fronteiras de Venezuela e Colômbia, afetando toda a América do Sul. Lula tem reiterado que a região é pacífica e livre de conflitos externos, mas tem alertado para um momento de “polarização e instabilidade”, com o perigo de “intervenções estrangeiras” que podem causar mais danos do que soluções.
Interesses Brasileiros em Primeiro Plano
A postura do Brasil diante dessas questões internacionais reflete um princípio fundamental: a soberania e os interesses nacionais devem prevalecer. Assim como o Brasil se posicionou em defesa de sua soberania contra tarifas e sanções dos EUA, agora é crucial manter o foco nos objetivos brasileiros. A metáfora “o rabo não pode abanar o cachorro” ilustra claramente que as preocupações secundárias não devem ofuscar as prioridades centrais.
A negociação de detalhes como alíquotas de tarifas ou a exclusão de produtos agrícolas específicos do escopo de impostos são questões técnicas que cabem a ministérios e equipes especializadas. O mais importante, no contexto do encontro entre Lula e Trump, é o aspecto político e a imagem gerada por um aperto de mãos e um diálogo produtivo. Essa fotografia pode desmistificar narrativas que tentam minimizar a aproximação entre os líderes, como as propagadas por setores bolsonaristas.
O Jogo Político entre Lula e Trump
A realidade atual demonstra um clima de entendimento entre Trump e a equipe de Lula, com poucas menções recentes a Jair Bolsonaro ou ameaças de sanções. Qualquer tentativa de demonstrar medo ou fraqueza por parte de Lula em relação a ingerências na Venezuela e Colômbia seria prejudicial à sua imagem e aos interesses brasileiros. Ambos os líderes são experientes em jogar esse jogo político, onde um se posiciona e o outro se prepara para ouvir.
Portanto, a discussão sobre a Venezuela na Malásia, embora necessária para cumprir formalidades diplomáticas, será secundária. O foco principal de Lula e Trump estará nas relações bilaterais e em como fortalecer os laços, especialmente no contexto de um Brasil que busca consolidar sua posição econômica e política no cenário internacional, livre de sanções injustas.
Fonte: Estadão