O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Donald Trump promete ser estratégico, mas duas questões complexas surgem como potenciais desafios: a política da China sobre terras raras e a situação na Venezuela, que ganhou destaque com o Prêmio Nobel da Paz concedido à líder da oposição, María Corina Machado. Ambas as pautas têm relevância direta para o Brasil e para os Estados Unidos.
Terras Raras: Um Jogo de Estratégia Geopológica
O Brasil possui a segunda maior reserva mundial de terras raras, minerais essenciais para o desenvolvimento de tecnologias de ponta, desde carros elétricos e computadores até aplicações na indústria bélica. A recente decisão da China de proteger suas reservas desses materiais estratégicos já causou reações globais, incluindo a imposição de tarifas de 100% sobre produtos chineses por parte de Trump. Para o Brasil, a situação exige um equilíbrio delicado. Escancarar essa riqueza para agradar Trump e obter redução de tarifas e sanções pode gerar Críticas internas sobre a soberania nacional e a gestão de recursos estratégicos. Por outro lado, uma recusa pura e simples pode inviabilizar negociações e a aproximação bilateral.
A gestão dessas reservas em negociações com os EUA, especialmente após a movimentação chinesa, levanta questionamentos sobre a soberania brasileira e a forma como esses recursos serão utilizados em acordos internacionais. A decisão da China de restringir suas exportações de terras raras acende um sinal de alerta para o Brasil.
Venezuela: Um Dilema Diplomático para Lula
A questão venezuelana também se impõe no diálogo entre Lula e Trump. O Departamento de Estado dos EUA, após comunicação com o Itamaraty, sinalizou que interesses econômicos e prioridades regionais estão em pauta, indicando a relevância da Venezuela no encontro. A concessão do Prêmio Nobel da Paz a María Corina Machado intensifica a sensibilidade do tema, especialmente considerando a postura de Trump em relação ao regime de Nicolás Maduro.
A política externa brasileira no terceiro mandato de Lula tem sido alvo de críticas em relação à Venezuela. Ao estender um “tapete vermelho” para Maduro e rechaçar a oposição, o Brasil se viu em uma posição diplomática delicada. Embora Lula não apoie ingerências militares na região, a tradicional postura brasileira de Defesa da diplomacia como solução para conflitos se mantém. A interferência armada, no entanto, não é um caminho que o Brasil endossará.
O Papel do Itamaraty e as Negociações Futuras
A atuação do Itamaraty tem sido elogiada pela eficiência em restabelecer canais de comunicação e resolver questões diplomáticas. No entanto, a disputa por protagonismo dentro do Governo surge em um momento de muitos interesses e detalhes em jogo. A negociação entre Lula e Trump será crucial para definir o futuro das relações bilaterais e a abordagem sobre temas como terras raras e a Venezuela.
Lula, conhecido por sua habilidade de negociação, enfrentará um Trump pragmático. A expectativa é que o Brasil não feche suas reservas de terras raras, como a China fez, nem abra todas as suas riquezas indiscriminadamente. O desafio será encontrar um ponto de convergência que atenda aos interesses nacionais e às demandas internacionais, especialmente em um cenário global de crescente disputa por recursos estratégicos.
Fonte: Estadão