O presidente Luiz Inácio Lula da Silva optou por uma estratégia de alto risco ao desafiar uma convenção do marketing político: em vez de evitar uma onda de apoio popular, ele decidiu confrontá-la. Lula criticou a atuação da polícia na megaoperação realizada no Rio de Janeiro, que resultou em um número inédito de mortos ao combater uma organização criminosa. Essa operação, contudo, desfruta de um apoio popular significativo, o que torna a posição do presidente ainda mais delicada.
Segurança Pública: Um Campo Minado para o Governo
Considerando que a segurança pública é a principal preocupação do eleitor brasileiro, um tema onde governos petistas historicamente enfrentam dificuldades, a decisão de peitar a onda de apoio à megaoperação representa um cálculo arriscado. Especialistas questionam o que poderia levar um político experiente como Lula a adotar uma tática que promete apenas desvantagens.
Otimismo Presidencial Versus Cautela das Pesquisas
Relatos indicam que, mesmo antes da megaoperação, e após sucessivos erros da oposição – como o apelo a Donald Trump –, Lula demonstra convicção de que vencerá a eleição no primeiro turno, algo que já insinuou publicamente. No entanto, profissionais de pesquisa de opinião pública adotam uma postura mais cautelosa. Eles observam a volatilidade das aprovações governamentais, influenciadas pela rapidez dos acontecimentos políticos nacionais e internacionais. A tarefa desses analistas é distinguir entre a volatilidade momentânea e a constância dos números, buscando identificar os “fatores estruturais” que podem impactar negativamente o Governo.
Fatores Estruturais e a Percepção do “Sistema Quebrado”
Esses fatores estruturais se dividem em duas categorias. A primeira é a percepção generalizada de que o “sistema” falhou e que os governos, independentemente de sua filiação, têm dificuldade em resolver os problemas da população. O segundo ponto é mais específico a Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT). A crítica aponta para uma incapacidade atual do presidente em “vender” novos sonhos e perspectivas, especialmente em relação às transformações ocorridas nas periferias, que o petismo parece não ter acompanhado.
Assistencialismo e a Perda de Apelo
A combinação de Táticas como a dicotomia “ricos contra pobres” e o assistencialismo turbinado, que foram eficazes em eleições passadas, parece ter perdido força. A pregação de prosperidade avançou em setores do eleitorado que Lula tem dificuldade em alcançar. Além disso, a expansão fiscal via assistencialismo tornou-se uma política de Estado, sem grandes diferenciais em relação ao que o chamado Centrão de “centro direita” pratica.
Vitória Construída sobre Erros Alheios
Lula se mostra altamente competitivo, em grande parte, devido aos erros e omissões de seus adversários. Contudo, sua recente postura em relação à operação policial no Rio sugere que ele pode estar optando por “devolver o favor”, assumindo um risco calculado em um tema sensível para a opinião pública.
Fonte: Estadão