Após a derrota na Câmara dos Deputados na última quarta-feira (8) com o bloqueio da medida provisória que visava aumentar impostos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT) reativaram o mote de campanha focado na divisão entre ricos e pobres. Essa estratégia já havia sido empregada com sucesso após a tentativa de aumento do IOF em junho.


Ataque Direcionado ao Congresso e Setores Financeiros
Nas redes sociais governistas, a quinta-feira (9) foi marcada pela disseminação dos slogans “Congresso inimigo do povo” e “taxação BBB” (bancos, bets e bilionários). O objetivo é associar o centrão e a oposição à Defesa de privilégios para os mais ricos, em detrimento da população de baixa renda. A oposição, por sua vez, rebate afirmando que o Brasil não suporta mais impostos e que o governo busca aumentar a arrecadação sem cortes de gastos, especialmente em ano eleitoral.
Em entrevista à Rádio Piatã FM, na Bahia, Lula expressou sua tristeza com a decisão: “Eu fico triste, muito triste, porque ontem o Congresso Nacional poderia ter aprovado para que os ricos pagassem um pouco mais de imposto”. Ele comparou a alíquota de 27,5% de Imposto de Renda paga pelo trabalhador com a intenção de cobrar 12% dos ricos, argumentando que a derrota na Câmara representou um prejuízo para o povo brasileiro e para a melhoria da qualidade de vida.

Tarcísio de Freitas no Radar da Crítica
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), principal nome citado para uma possível candidatura presidencial contra Lula em 2026, tornou-se um dos alvos centrais. O PT e governistas o apontam como um dos articuladores da derrota da medida provisória na Câmara. Apesar da negação de Tarcísio, o líder do PL, Sostenes Cavalcante (RJ), agradeceu publicamente o empenho do governador em sua fala na tribuna.
Vídeos criados com Inteligência Artificial circulam em grupos governistas, retratando o centrão e a oposição como defensores de bilionários. Um dos vídeos mostra um homem em um ambiente luxuoso agradecendo a “bolsonaristas e ao governador de São Paulo” por garantir que “finalmente só o pobre vai pagar imposto, viva as bets, os bancos e os bilionários”. Outro vídeo afirma que “deputados bolsonaristas e o centrão acabaram de tirar R$ 35 bilhões dos cofres públicos”.
O líder da bancada do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), declarou em suas redes sociais que a votação reforçou o título de “Congresso inimigo do povo”. A ministra Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, escreveu na internet que “o que Tarcísio quer esconder é que ele é o candidato dos bilionários, das bets e dos golpistas”.
Reação da Oposição e Estratégia Eleitoral
Tarcísio de Freitas reagiu em vídeo, negando sua participação na derrota da MP e acusando o PT de usar a estratégia de “vender um mundo perfeito na publicidade, gastando o seu dinheiro para isso, para espalhar fake news, o medo, o ódio, em cima de quem pensa diferente deles”. Ele ressaltou que seu foco é trabalhar por São Paulo e que o país não apoiará o aumento de impostos.

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), outro pré-candidato da oposição, também criticou a MP, afirmando que votar a favor seria “dar um presente de R$ 30 bilhões para o governo Lula torrar em 2026”.
Impacto Político e Próximos Passos
Parlamentares governistas veem a derrota na Câmara como uma oportunidade para ganhar a opinião pública com a campanha “ricos vs. pobres”, repetindo o sucesso obtido após a derrubada de decretos que aumentavam o IOF em junho. Essa estratégia tirou o governo da defensiva nas redes sociais, enfraquecendo o discurso da oposição sobre o peso dos impostos.
Contudo, congressistas questionam o alcance dessa propaganda e o risco de piorar a relação do governo com o Congresso, especialmente com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que vinha buscando uma aproximação com o Planalto. A retirada da taxação das bets da MP foi vista como um erro que rachou a base governista e enfraqueceu o discurso contra o setor.
Espera-se que o centrão retalie o governo em futuras votações, levando o Planalto a acionar o Congresso o mínimo possível. Internamente, deputados do PT defendem o mapeamento e exoneração de cargos ligados a parlamentares que votam contra Lula, além da apresentação de alternativas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para recuperar a arrecadação esperada com a medida.
Fonte: Folha de S.Paulo