Lula oferece mediação com Venezuela a Trump; oferta é irrealista

Lula oferece mediação a Trump sobre a Venezuela, mas a oferta é vista como irrealista diante do cenário atual e da abordagem americana.
Lula Venezuela Trump — foto ilustrativa Lula Venezuela Trump — foto ilustrativa

A reunião entre os presidentes Lula e Donald Trump em Kuala Lumpur, na Malásia, foi um passo importante para a normalização das relações entre Brasil e Estados Unidos. Além de temas comerciais e econômicos, Lula defendeu a atuação da Justiça brasileira contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe e classificou sanções americanas a ministros do STF como injustas. O presidente brasileiro também abordou a questão da Venezuela, sob ameaça de intervenção armada dos EUA, oficialmente para combater atividades ilícitas, mas com o provável objetivo de pressionar pela queda de Nicolás Maduro.

Lula se oferece como mediador entre EUA e Venezuela

Segundo o chanceler Mauro Vieira, Lula se ofereceu a Trump para ser um contato e interlocutor com a Venezuela, buscando soluções mutuamente aceitáveis. Essa oferta reforça o desejo do presidente brasileiro de retomar seu papel de mediador em conflitos internacionais, um objetivo desde o início de seu terceiro mandato.

Oportunidade geopolítica para o Brasil

A oferta de ajuda é previsível e, em grande medida, justificada. A América do Sul representa um espaço geopolítico onde o Brasil e Lula teriam capacidade de promover a paz. Tensões militares na região ou intervenções americanas na vizinhança não interessam ao Brasil, pois a instabilidade política pode transbordar, gerando novas ondas de refugiados e abalando a credibilidade internacional da América do Sul, e consequentemente, do Brasil.

Histórico de mediação brasileira na região

A Venezuela chavista é fonte de instabilidade na região desde os anos 2000. O radicalismo de Hugo Chávez gerou tensões com os Estados Unidos, e o Brasil, sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso (FHC), atuava para contê-lo. Em 2001, o então presidente americano George W. Bush preocupou-se com a participação de Chávez em uma cúpula no Canadá, temendo confusões. FHC interveio, pedindo moderação ao venezuelano.

Em momentos mais críticos, como a tentativa de golpe contra Chávez em 2002, com apoio dos EUA, o Governo brasileiro articulou um repúdio regional ao golpe, reafirmando o princípio de não intervenção americana nos países sul-americanos. Durante os dois primeiros mandatos de Lula, a diplomacia petista utilizou a suposta capacidade de conter o radicalismo chavista como trunfo nas relações com os EUA, mostrando-se útil e necessário para os americanos. Naquela época, Chávez não era totalmente controlável, mas podia ser influenciado em certa medida.

Realidade atual: Venezuela isolada e Trump direto

Contudo, a Venezuela de Nicolás Maduro hoje perdeu influência regional e se isolou, sendo preterida até por governos de esquerda, como o Chile de Gabriel Boric. A tentativa recente de Lula de pressionar Maduro a fazer concessões, atuando como fiador de eleições livres no país no ano passado, fracassou retumbantemente. Maduro manipulou o pleito, ignorando Protestos brasileiros e mantendo-se no poder através da repressão, lealdade militar e apoio da Rússia.

Fundamentalmente, Donald Trump não precisa de mediadores para lidar com a Venezuela se seu objetivo é a queda de Maduro. O presidente americano parece decidido a usar a ameaça da força como persuasão. No entanto, quando desejar abrir canais de diálogo, Trump o fará diretamente, sem rodeios ou intermediários, como demonstrado em tratativas com Vladimir Putin e Kim Jong-Un.

A disposição de Lula em se apresentar como mediador reflete a preocupação do governo brasileiro com a escalada militar nos mares da Venezuela, mais do que uma oferta realista de resolução de conflitos.

Fonte: Estadão

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