A nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência é uma estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para fortalecer a articulação do Governo com movimentos sociais e trabalhadores de aplicativos, visando as eleições de 2026.

Na visão de Lula, Boulos se encaixa como uma peça chave na coordenação informal da campanha presidencial, ao lado de Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Comunicação Social), que auxiliaram na sua ascensão ao Planalto.
Boulos foi designado ministro da Secretaria-Geral da Presidência, pasta responsável pela interlocução com a sociedade civil. Ele recebeu três missões centrais do presidente: “colocar o governo na rua”, aprimorar a relação governamental com trabalhadores de aplicativos e mobilizar apoio para o fim da escala 6×1.
Por outro lado, líderes de partidos de centro expressam preocupação com a imagem de Boulos como um radical de esquerda, o que poderia afastar eleitores fora da base petista.
Nas próximas semanas, Boulos e sua equipe se reunirão com os atuais membros da Secretaria-Geral, incluindo Márcio Macêdo, que se dedicará à sua candidatura a deputado federal por Sergipe. Boulos definirá quais ações serão mantidas e quais serão encerradas, além de montar sua nova equipe.
O novo ministro planeja formar um quadro plural, integrando figuras atuantes na Frente Povo Sem Medo e no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), organizações lideradas por ele, mas também acomodando indicações de outros grupos políticos, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
A composição ministerial se apresenta como o primeiro desafio de Boulos, considerando antigas disputas por protagonismo entre movimentos de esquerda próximos a ele e aqueles sob a órbita do PT, como o MST.
Regulamentação de Trabalhadores de Aplicativos
Uma das prioridades do terceiro mandato de Lula, a regulamentação dos trabalhadores de aplicativo, enfrentou dificuldades. O tema, que chegou a ser discutido em declaração conjunta com o então presidente dos EUA, Joe Biden, sofreu forte rejeição.
Após meses de negociações com trabalhadores e empresas, o Ministério do Trabalho apresentou um projeto à Câmara dos Deputados. No entanto, a proposta foi mal recebida pelos trabalhadores, que a consideraram limitadora de ganhos e não ampliativa de direitos.
O governo reconhece falhas na construção e comunicação da proposta. Nesse contexto, Guilherme Boulos assumiu a articulação de um novo projeto com uma abordagem distinta.
A nova proposta inclui remuneração mínima, seguro obrigatório e transparência algorítmica, mantendo a flexibilidade e garantindo direitos básicos. O texto foi elaborado com a colaboração de associações de trabalhadores de aplicativos, principalmente entregadores, e obteve apoio de deputados de dez partidos, inclusive de centro-direita. A expectativa é de votação nos próximos meses.
Ministros palacianos apoiam a iniciativa de Boulos, vendo na matéria um potencial trunfo para as eleições de 2026.

Expandir a Presença do Governo
Até as eleições, Boulos viajará pelo Brasil para divulgar as pautas do governo junto às bases. Sua atuação funcionará como uma extensão da figura presidencial, permitindo que Lula se concentre em tarefas internas e compromissos internacionais.
Fim da Escala 6×1 como Bandeira Política
Outra missão de Boulos é popularizar o fim da escala 6×1. A demanda surgiu dos próprios trabalhadores, foi adotada por influenciadores e ganhou apoio popular.
Embora o Planalto tenha demorado a se engajar, Lula recentemente “abraçou” a causa, segundo aliados. Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de Erika Hilton (Psol-SP) tramita na Câmara, mas carece de apoio suficiente para aprovação a curto prazo. O objetivo de Boulos é alterar essa correlação de forças e tornar o fim da escala 6×1 uma bandeira da campanha de Lula em 2026.
Fonte: G1