Lojas de Conveniência Japonesas: Franqueados Sofrem com Baixas Vendas e Excesso de Trabalho

Franqueados de lojas de conveniência no Japão enfrentam baixas vendas e excesso de trabalho devido à falta de mão de obra e envelhecimento populacional. Saiba mais.
lojas de conveniência japonesas franqueados — foto ilustrativa lojas de conveniência japonesas franqueados — foto ilustrativa

O modelo de franquias de lojas de conveniência no Japão, admirado por turistas pela eficiência e conveniência 24/7, esconde um lado sombrio para os franqueados. A escassez de mão de obra e o envelhecimento populacional geram pressão, baixas vendas e excesso de trabalho, levando a tragédias como a de um gerente que faleceu por suicídio após meses sem descanso, segundo investigação oficial. Sua esposa, Akiko, lamenta a situação: “Deveria tê-lo forçado a sair antes. Agora só restam arrependimentos.”

Em 2023, uma investigação apontou que o suicídio do homem de 38 anos teve relação direta com o excesso de trabalho, após comprovar seis meses sem descanso. A conclusão do Escritório de Inspeção dos Padrões Trabalhistas ressalta a gravidade da situação.

Reiji Kamakura, secretário-geral do Sindicato das Lojas de Conveniência, afirma que os donos enfrentam forte pressão e dificuldades em contratar novos funcionários. “Quando falamos em ponto de ruptura, é agora”, declarou, defendendo que as grandes empresas repassem mais lucros aos franqueados para aliviar o fardo.

Modelo de Franquia e Pressão Financeira

As principais redes, como 7-Eleven, FamilyMart e Lawson, operam sob um modelo onde franqueados pagam royalties em troca de marca, produtos e logística. Na 7-Eleven, essa taxa pode variar de 40% a 70% do Lucro bruto, com a empresa não reconhecendo o sindicato, pois os donos não são empregados diretos. Apesar da flexibilização do horário de funcionamento após protestos em 2019, os franqueados ainda se sentem compelidos a manter as lojas abertas ininterruptamente.

Tomomi Nagai, analista da Toray Corporate Business Research, aponta que os altos custos trabalhistas estão corroendo a renda dos franqueados e ameaçando a sustentabilidade do modelo. “O consumo vem caindo e falta mão de obra. Estamos num verdadeiro período de transição”, ressalta.

Estratégias das Redes e Desafios Futuros

As redes buscam mitigar o problema com automação, como caixas automáticos e robôs de limpeza. No entanto, a 7-Eleven, controlada pela Seven & i Holdings, enfrenta um crescimento anual de vendas modesto, de apenas 0,8%, comparado aos mais de 4% de suas concorrentes. A empresa resistiu a uma oferta de US$ 46 bilhões da canadense Alimentation Couche-Tard, mas a pressão interna é crescente.

Uma pesquisa interna com 13 mil franqueados revelou que 90% deles estão preocupados com o aumento do salário mínimo e com o plano do grupo de abrir mais mil lojas até 2030, num cenário de acirrada concorrência com supermercados e drogarias. Stephen Dacus, presidente da Seven & i, reconheceu o risco de perder franqueados se as vendas não melhorarem, prometendo medidas para reduzir a carga de trabalho e evitar novas tragédias. A empresa já desenvolvia um sistema de alerta para excesso de horas.

A Seven & i planeja adotar o modelo de “megafranquia” da Lawson, onde um único proprietário gerencia múltiplas lojas, com revisão de contratos prevista para 2027. Mitsuya Maki, vice-presidente da Lawson, considera a Contratação de pessoal um “ponto crítico”, mas foca em soluções tecnológicas, sem urgência em alterar contratos.

Um gerente da 7-Eleven em Honshu relatou queda nos lucros devido a produtos pouco atraentes, envelhecimento da clientela e concorrência, inclusive de outras unidades da mesma rede. Ele mencionou trabalhar 30 horas mensais sem pagamento, um número que tende a aumentar com o reajuste do salário mínimo. “Fazer o trabalho sozinho reduz Custos e mantém a loja no azul”, explicou. “Mas o maior problema é que não conseguimos contratar.” A aprovação das mudanças na seguridade social previstas para 2026 pode levar muitos a fecharem as portas.

Akiko expressa receio pelo futuro dos franqueados: “Acho que há muitas pessoas como meu marido, que continuam trabalhando sem parar, sem ninguém para substituí-las.” A situação reflete um desafio estrutural para o varejo japonês.

Fonte: Folha de S.Paulo

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