Livro “Se Baterem, Cantem!” relembra repressão a estudantes em 1977

Livro “Se Baterem, Cantem!” resgata o 3º ENE de 1977 em BH, evento estudantil reprimido pela ditadura militar. Conheça a história.
Encontro de estudantes em BH reprimido por ditadura militar em 1977 — foto ilustrativa Encontro de estudantes em BH reprimido por ditadura militar em 1977 — foto ilustrativa

Um livro recém-lançado, intitulado “Se Baterem, Cantem!”, do Grupo Editorial Quixote, resgata um importante episódio da história brasileira: o 3º Encontro Nacional de Estudantes (ENE), realizado em Belo Horizonte em junho de 1977. O evento buscava a reconstrução da União Nacional dos Estudantes (UNE), então ilegalizada pela ditadura militar, mas terminou com a repressão das forças militares e a prisão de cerca de 850 estudantes na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Organizada pela jornalista e historiadora Cândida Lemos, a obra conta com autoria de Angela Drummond, Cândida Lemos, Izabel Zóglio, Samira Zaidan e Virgínia Castro. O livro foi meticulosamente elaborado a partir de entrevistas com participantes do ENE, incluindo estudantes e jornalistas da época, além de extensas pesquisas em jornais do período e documentos oficiais de órgãos como a Polícia Federal, a Justiça Militar e o Serviço Nacional de Inteligência (SNI), principal órgão de espionagem do regime militar.

Estudantes protestando durante a ditadura militar no Brasil.
Manifestação estudantil durante o período da ditadura militar.

Contexto de Repressão e Proibição

O 3º ENE enfrentou forte oposição oficial. Dias antes de sua realização, o evento foi proibido pelo Ministério da Educação e Cultura. Na véspera, o então governador de Minas Gerais, Aureliano Chaves, determinou o bloqueio de todas as universidades da capital mineira. A repressão e a censura eram marcas do período, visando sufocar qualquer forma de organização estudantil e oposição ao regime.

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O jornalista e escritor Luiz Fernando Emediato, que assina o prefácio do livro, compartilhou a emoção ao revisitar os eventos. Ele escreveu: “Nesta obra, uma saudade bate no peito e, antes que seja noite escura, tentamos acreditar que, se restabelecermos a energia vital daqueles tempos, sim, poderemos voltar a ter esperança de que dias melhores virão”. Sua contribuição reforça a importância histórica e emocional do relato.

Detalhe do livro
Livro “Se Baterem, Cantem!” aborda a repressão a estudantes.

A Luta pela Reconstrução da UNE

Após o cerco em Belo Horizonte, uma nova tentativa de reconvocação para reconstruir a UNE ocorreu em setembro do mesmo ano, em São Paulo. Essa tentativa também foi frustrada, com a PUC (Pontifícia Universidade Católica) amanhecendo cercada por agentes do governo. No entanto, cerca de 70 estudantes conseguiram realizar uma sessão secreta onde elegeram um comitê para dar continuidade às atividades da entidade estudantil, demonstrando a resiliência do movimento.

A União Nacional dos Estudantes foi oficialmente retomada em 1979, durante o Congresso de Reconstrução em Salvador. Nos anos seguintes, o movimento estudantil desempenhou um papel crucial nas mobilizações que culminaram na redemocratização do país e nas campanhas por eleições diretas.

Lançamento e Legado

O lançamento oficial de “Se Baterem, Cantem!” ocorrerá neste sábado (11) no diretório acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG, das 16h às 19h. O livro não é apenas um registro histórico, mas um convite à reflexão sobre a importância da Memória e da luta pela liberdade de expressão e organização democrática, temas que continuam relevantes no cenário político e social brasileiro.

Fonte: Folha de S.Paulo

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