Os juros futuros registraram avanços moderados na maior parte da estrutura a termo da curva, em um pregão marcado pela liquidez reduzida e pouca oscilação, na véspera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O ambiente global de baixo apetite por risco impulsionou a alta das taxas de prazos intermediário e longos. Na ponta curta, houve um leve recuo, com agentes calibrando apostas para a reunião do Copom.
Ao final dos negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2027 recuou de 13,885% para 13,87%. Já o DI de janeiro de 2029 avançou de 13,10% para 13,12%, e o de janeiro de 2031 subiu de 13,39% para 13,435%.
Em contrapartida, os rendimentos dos Treasuries americanos se beneficiaram da busca por ativos seguros, com a taxa da T-note de dez anos em baixa de 4,113% para 4,091% no fim da tarde.
Aversão Global a Risco e Impacto no Mercado
O cenário global de aversão a risco, que influenciou os mercados domésticos, foi acentuado por alertas de líderes empresariais dos Estados Unidos sobre uma possível correção nas bolsas de Nova York. Estimativas apontam para um recuo de até 10% nos mercados acionários americanos nos próximos um a dois anos, levando investidores a buscar segurança.
Nesse contexto, a agenda local, que já oferecia poucos direcionadores, ficou em segundo plano. Indicadores como a queda de 0,4% na produção industrial brasileira entre agosto e setembro e a oferta de 750 mil NTN-B pelo Tesouro Nacional não alteraram significativamente a dinâmica da curva de juros futuros.
Cautela e Expectativas para o Copom
Investidores de renda fixa mantiveram uma postura cautelosa, aguardando a decisão do Copom. O consenso é que a taxa Selic, atualmente em 15%, seja mantida, com o comitê evitando alterações bruscas na comunicação para reiterar a intenção de manter os juros básicos no patamar atual por mais alguns meses.
Sérgio Goldenstein, sócio-fundador da Eytse Estratégia, avalia que um movimento prematuro do Copom iria contra as sinalizações anteriores de manutenção da Selic por um período prolongado, o que comprometeria a credibilidade e a reancoragem das expectativas de inflação. “Um movimento prematuro por parte do Copom estaria em desacordo com as sinalizações anteriores de manutenção da Selic por período bastante prolongado. Isso poderia comprometer o esforço de reconstrução da credibilidade e de reancoragem, ainda que parcial, das expectativas de inflação”, disse em relatório.
O departamento de pesquisa econômica do Banco Daycoval sugere que, para manter um grau de liberdade maior, o Copom poderia retirar do comunicado menções a “período bastante prolongado” de Selic elevada e a afirmação de que “não hesitará em retomar o ajuste”. Caso contrário, o início do corte de juros pode ocorrer após janeiro de 2026.
Curva de Juros Reais e Posicionamento de Mercado
A curva de juros reais, extraída das NTN-Bs, exibiu inclinação, com taxas curtas em queda e longas em alta. Traders de renda fixa observam que a ponta curta operou de forma independente, com operadores buscando assimetrias caso o Copom suavize a comunicação.
Embora a ansiedade por cortes da Selic seja compreensível e possa haver espaço para quedas futuras, a melhora recente nas expectativas de inflação de longo prazo, a inflação implícita e corrente, e o distanciamento da meta do BC indicam que não há benefícios em alterar a orientação atual. O posicionamento tem sido “leve” até o momento.
O artigo menciona a volatilidade observada em dias anteriores, como na bolsa de valores, com o Ibovespa mantendo os 150 mil pontos e o dólar em forte alta perto de R$ 5,40, reflexo da aversão global a risco.
Fonte: Valor Econômico