A Argentina enfrenta uma crise cambial severa, com as taxas de juros de curto prazo disparando para 87% nesta quarta-feira (8). A escalada ocorre enquanto o Governo intensifica a venda de dólares para defender o peso, um movimento que agrava a escassez de liquidez e sufoca a economia do país.
O rendimento das notas Lecap do Tesouro, com vencimento em 28 de novembro, atingiu um pico alarmante de 87%. Esse valor representa um salto significativo em relação aos 74% registrados na terça-feira e aos 51% do final da semana passada, superando o Recorde anterior em cinco pontos percentuais.
Em meio à volatilidade, o Tesouro argentino realizou sua sétima sessão consecutiva de venda de dólares. Fontes indicam que a operação desta quarta-feira somou ao menos US$ 320 milhões, elevando o total de vendas no período para cerca de US$ 1,8 bilhão.
A estratégia do governo visa evitar uma desvalorização ainda maior do peso, que poderia acelerar a já alta inflação, especialmente às vésperas das eleições legislativas de 26 de outubro. Metade das cadeiras do Congresso Nacional estará em disputa, e o presidente Javier Milei busca ampliar seu apoio político para avançar com reformas econômicas cruciais.
O Banco Central Argentino tem atuado em conjunto com o Tesouro, utilizando recursos deste último para manter a estabilidade monetária. No mês passado, a autoridade monetária já havia consumido US$ 1,1 bilhão em reservas na tentativa de sustentar a moeda. Contudo, as regras do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) limitam a intervenção direta do BC, permitindo-a apenas se o peso ultrapassar os limites de negociação estabelecidos.
Crise se Aprofunda e Impacta Mercado Financeiro
O cenário econômico argentino se deteriorou após a derrota eleitoral de Milei na província de Buenos Aires em setembro. O revés ocorreu em meio ao agravamento da crise econômica e a escândalos de corrupção envolvendo aliados. Embora um anúncio de ajuda externa tenha contido a venda de ativos, a queda da moeda não foi revertida.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, indicou à Reuters que uma decisão sobre novo apoio financeiro à Argentina deve sair em breve. No entanto, a volatilidade no mercado de títulos é notória. Após uma forte alta na segunda-feira, os papéis com vencimento em 2035 recuaram no dia seguinte, acompanhando as intervenções cambiais. Nesta quarta, registraram nova alta ao final do dia, após as declarações de Georgieva.
A situação exige atenção máxima dos investidores e analistas, que monitoram de perto as ações do governo argentino e as negociações com o FMI. A capacidade do país em gerir a escassez de dólares e controlar a inflação será determinante para a estabilidade econômica nos próximos meses.
Fonte: InfoMoney