Um juiz federal atuante na Operação Lava Jato, Eduardo Appio, localizado no Paraná, tornou-se alvo de um procedimento disciplinar. A investigação apura uma suposta tentativa de furto de três garrafas de champanhe francesa Möet&Chandon em um supermercado na cidade de Blumenau, Santa Catarina. Cada garrafa do produto pode custar até R$ 500. A defesa do magistrado afirmou que um advogado irá esclarecer o ocorrido.
Procedimento Disciplinar no TRF4
A apuração será conduzida pela Corregedoria do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O incidente teria ocorrido na quarta-feira, 22 de maio, e, segundo informações, foi flagrado por câmeras de segurança do estabelecimento comercial. O TRF4 declarou que não emitirá manifestações sobre o caso no momento. A Polícia Civil de Santa Catarina já oficiou a Corte, detalhando a ocorrência e indicando que os procedimentos serão realizados sob sigilo, dada a condição de magistrado do envolvido.
Atuação de Eduardo Appio na Lava Jato
Eduardo Appio ganhou notoriedade ao assumir a titularidade da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, o berço da Operação Lava Jato, substituindo o ex-juiz e hoje senador Sérgio Moro. Appio permaneceu à frente da vara por um período de três meses, herdando processos remanescentes da operação que ainda não haviam sido concluídos.
Durante a condução desses casos, que envolviam alvos da Lava Jato, Appio proferiu acusações sérias contra o trabalho de Moro e também do então procurador da República Deltan Dallagnol, que foram os principais articuladores da investigação que desmantelou um esquema de corrupção e cartel na Petrobras entre os anos de 2003 e 2014.
O Livro Crítico à Lava Jato
O juiz federal investigado é autor do livro ‘Tudo por dinheiro: a ganância da Lava Jato’. Na obra, Appio narra dificuldades em realizar audiências e descreve a atuação de membros da força-tarefa como uma “verdadeira rede, quase como uma organização criminosa” no TRF da 4ª Região, que atuava como corte de apelação para as decisões da 13ª Vara de Curitiba.
O livro é uma compilação de passagens biográficas, anedotas, relatos de bastidores e análises sobre o sistema judiciário, com foco nos métodos empregados pela Operação Lava Jato. Eduardo Appio sempre expressou sua discordância com a condução da investigação, tecendo Críticas contundentes ao longo da obra e comentando sobre momentos cruciais da operação.
Críticas a Sérgio Moro no Livro
Um capítulo inteiro do livro é dedicado a Sérgio Moro, intitulado “Como Moro politizou o Judiciário”. O magistrado aborda desde os trajes característicos do ex-juiz até sua tese de doutorado. Em uma das passagens, Appio descreve a dificuldade em se organizar no acervo de processos ao assumir a 13ª Vara de Curitiba, afirmando que Moro foi “o pior gestor” que conheceu, criando um “verdadeiro cipoal” que dificultava a localização de processos, uma ação que, segundo Appio, poderia ter sido dolosa para atender a interesses pessoais. Na época do lançamento do livro, Moro rebateu as opiniões de Appio, declarando que seu desafeto possuía um comportamento “extravagante” que indicava “Falta de caráter e desequilíbrio mental”.
Transferência Após Investigação Informal
O livro foi escrito pelo jornalista Salvio Kotter, com base em aproximadamente 30 horas de entrevistas com o magistrado. Appio conduziu processos remanescentes da Lava Jato entre fevereiro e maio de 2023, mas foi transferido após tentar investigar de forma informal a relação entre o desembargador Marcelo Malucelli e Sérgio Moro.
Fonte: Estadão