A história de José Paulino, figura proeminente de Campinas, emerge em meio a crises sanitárias, lembrando a resiliência e o heroísmo em tempos difíceis. A narrativa começa com o sargento-mor Teodoro Ferraz Leite, que se mudou para Campinas, então vila de São Carlos, após enviuvar. Sua família se expandiu, com o filho Luís Nogueira Ferraz investindo no cultivo de café para sustentar uma prole de doze filhos.
Origens e Ascensão de José Paulino
Um dos filhos de Luís, José Paulino, após concluir o ensino primário, iniciou sua carreira em uma casa de comércio que ia além de transações financeiras, funcionando como um verdadeiro centro de atividades sociais e debates políticos. Este local era frequentado por figuras importantes como Campos Sales, Chico Quirino e Glicério, que disseminavam as ideias republicanas. José Paulino, absorvendo o ambiente e demonstrando qualidades de Liderança, gradualmente se tornou um líder para seus correligionários e um orientador de opiniões.
Sua capacidade de liderança e improvisação ficou evidente durante a epidemia de febre amarela em 1889. Com a cidade de Campinas em estado de calamidade e a administração municipal acéfala, José Paulino assumiu a responsabilidade de organizar as defesas sanitárias. Ele implementou medidas cruciais como o entupimento de fossas e poços, além da instalação de canalização de água e rede de esgoto.
José Paulino liderou o movimento sanitário, mesmo com seus companheiros adoecidos, enfrentando resistências e demonstrando coragem. Em uma carta ao político Glicério, ele detalha a gravidade da situação e a urgência das medidas: “Só um bom serviço de água e esgoto é que poderá restabelecer a salubridade em Campinas; portanto, todo o nosso esforço deve ser para que a Companhia realize o Empréstimo sem demora.” Ele descreve o cenário como “um horror!”, lamentando a condição de Campinas e apelando para que líderes pensassem em soluções para o empréstimo da Companhia de Águas e Esgotos, vista como a única salvação.
O Legado de um Líder em Tempos de Crise
A proclamação da República em novembro de 1889 trouxe um alívio temporário, permitindo que a população esquecesse os dias de angústia da febre amarela. Assim como o esquecimento da Covid-19, que causou mais de setecentas mil mortes entre 2020 e 2022. Em 1889, a nova república ofereceu um consolo, algo que, em 2025, ainda é questionado.
José Paulino destacou-se como um cidadão exemplar e herói, tornando-se fundamental em um momento de tragédia local. Ele permaneceu à frente do governo municipal até que Prudente de Morais, então governador, nomeasse Antônio Lobo como intendente municipal. A população de Campinas, grata, não esqueceu o heroísmo de José Paulino. Uma subscrição pública resultou na aposição de uma placa de mármore na fachada da casa comercial que ele administrava, posteriormente transformada na Escola de Comércio “Bento Quirino”.
Em julho de 1890, após o controle da segunda epidemia, José Paulino foi aclamado como líder em um banquete para Francisco Glicério, Ministro do novo Governo, com a proposta de que ele sucedesse o general-ministro. Seu retrato foi inaugurado como “presidente da Câmara que não abandonara o posto nos dias tenebrosos de 1889”. A memória desse líder e sua atuação em momentos de crise é um legado que a Juventude campineira de hoje deveria conhecer.
Fonte: Estadão