Advogado José Carlos Dias: Coragem contra o medo na ditadura

José Carlos Dias, advogado que defendeu centenas de presos políticos na ditadura militar, fala sobre a coragem de enfrentar o medo e o caso Vlado Herzog.
José Carlos Dias ditadura — foto ilustrativa José Carlos Dias ditadura — foto ilustrativa

Aos 86 anos e já aposentado da advocacia, José Carlos Dias, conhecido por sua atuação firme em defesa de presos e perseguidos políticos durante o regime militar, continua ativista pelos direitos humanos na Comissão Arns. O advogado, que desafiou a ordem jurídica da época com coragem e disposição, atuou em cerca de 500 processos e ajudou a desmantelar a versão oficial de suicídio do jornalista Vladimir Herzog. Em Entrevista, Dias expressou que, apesar da idade, ainda há muito a ser feito.

Os 50 anos da morte de Vladimir Herzog e a atuação de Dias

José Carlos Dias relembrou os 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto no DOI-Codi em outubro de 1975. O advogado foi crucial ao orientar o jornalista Rodolfo Konder, amigo de Herzog e também cliente, a detalhar o que sabia sobre os momentos finais de Vlado. Konder narrou ter ouvido os gritos de Herzog até cessarem, indicando que a morte ocorreu durante a tortura, e não por suicídio. O depoimento foi colhido na presença de um padre e posteriormente apresentado à Justiça Militar, servindo como peça fundamental para descreditar a versão oficial.

“Não foi nada de enforcamento. Foi torturado e morreu na tortura”, afirmou Dias, conjecturando que a morte pode ter sido um “acidente de trabalho” durante a sessão de tortura na “cadeira do dragão”.

Advogado José Carlos Dias e o jornalista Vladimir Herzog em foto antiga, relembrando a luta contra a ditadura militar.
José Carlos Dias, advogado que defendeu presos políticos durante a ditadura militar.

Prisões e a Comissão Nacional da Verdade

José Carlos Dias foi preso por três vezes durante a ditadura. Em uma dessas ocasiões, esteve detido junto com o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Após a redemocratização, Dias coordenou os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, coletando depoimentos de oficiais e buscando a abertura dos arquivos militares, que foram negados pelo governo da época. Ele criticou a presidente Dilma Rousseff por não ter exigido o Acesso aos documentos.

“Nós queríamos abertura de todos os arquivos. Tivemos uma reunião com a presidente Dilma e ela disse: ‘Mas eu não posso exigir que eles deem os arquivos’. Ela podia exigir sim, como comandante e chefe das Forças Armadas”, declarou o advogado.

A Lei da Anistia e o STF

O criminalista defende a revogação da Lei da Anistia, mesmo após o Supremo Tribunal Federal (STF) tê-la julgado constitucional em 2010. Na sua avaliação, o STF tem conduzido bem os processos da trama golpista, embora tenha ressaltado que o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, pode ter se excedido em alguns momentos. “É um homem sério, correto, firme”, disse sobre Moraes.

Dias também mencionou um caso marcante em sua carreira: a morte de Heleny Ferreira Telles Guariba. Ele se sente marcado por ter sido um instrumento para que ela fosse encontrada e morta, após ser alertado sobre um pedido de Prisão contra ela.

Legado e a luta contínua

A atuação de José Carlos Dias em Defesa de presos políticos foi motivada por um senso de dever e pela crença na justiça. Apesar do medo inerente ao período, ele ressalta a importância da coragem: “A gente pode ter medo, mas tem que ter coragem de vencer o medo. Essa é a minha posição”. Sua trajetória, marcada pela defesa técnica e pela busca incessante pela verdade, continua a inspirar a luta pelos direitos humanos.

Fonte: Estadão

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