O irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, expressou descontentamento com a condução de parte da CPI do INSS. Ele afirmou que a comissão tem sido utilizada como um palco político, em vez de um espaço para a apuração da verdade sobre os descontos irregulares em benefícios previdenciários.


Frei Chico, que ocupa o cargo de vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos) – uma das entidades investigadas –, declarou em nota: “É lamentável que parte da CPI do INSS use esse processo como palco político, em vez de buscar a verdade”. Ele acrescentou que não teme investigações, mas que o atual cenário configura um julgamento antecipado, anterior à correta apuração dos fatos.
Investigações e Acusações
A nota de Frei Chico, datada de quinta-feira (16), foi divulgada na sexta-feira (17). Ele reiterou seu compromisso com a verdade e com o devido processo legal, mencionando suas experiências passadas com perseguições e prisões durante a ditadura militar, quando era um ativista de esquerda.
O irmão de Lula tem sido um dos principais alvos da oposição, que busca desgastar o Governo federal através de investigações envolvendo parentes do presidente. Por outro lado, os aliados de Lula têm se posicionado para proteger o sindicalista.

Em resposta às alegações de que a Presidência estaria blindando o sindicalista, Frei Chico afirmou que o governo não interfere em investigações e que os órgãos de controle devem agir com independência e isenção. “Julgar sem provas é negar a democracia. Sigo de cabeça erguida e consciência tranquila, confiante na verdade e na força das instituições”, declarou.
Medidas Judiciais e Defesas
Recentemente, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) André Mendonça, relator da investigação sobre os descontos irregulares, determinou o bloqueio de R$ 389 milhões do Sindnapi e de seus dirigentes. A medida foi anunciada na terça-feira (14).
Em seu depoimento à CPI, o presidente do Sindnapi, Milton Baptista de Souza Filho, conhecido como Milton Cavalo, indicou que Frei Chico possui apenas uma função política na entidade, sem atribuições administrativas ou financeiras diretas. Essa declaração ocorreu em 9 de outubro.

Vitórias do Governo na CPI
Na quinta-feira (17), a maioria governista na CPI conseguiu barrar a Convocação de Frei Chico para depor, com um placar de 19 votos contra 11. A articulação visava evitar o desgaste associado à Convocação do irmão do presidente.
Na mesma reunião, o governo também impediu a quebra de sigilo de Carlos Lupi, ex-ministro da Previdência e presidente do PDT. Os requerimentos relacionados a Lupi foram retirados de pauta sem votação.
Outra Vitória importante para os aliados de Lula foi a aprovação, por 21 votos a 10, do requerimento para que o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) analise as transações financeiras do advogado Eli Cohen entre 2015 e 2025. Cohen foi um dos primeiros a investigar os descontos irregulares e já havia deposto na CPI.
O governo alega que Cohen tem ligações com a oposição. Um áudio revelado pela Folha indicou que Cohen teria recebido orientações do marqueteiro do PL, Duda Lima, antes de seu depoimento, sugerindo uma possível articulação política.
Por fim, a CPI rejeitou, por 19 votos a 11, quebras de sigilo contra a publicitária Danielle Miranda Fontelles. Fontelles, que já trabalhou em campanhas petistas, teria recebido R$ 5 milhões de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, uma figura central no escândalo dos descontos.
Fonte: Folha de S.Paulo