Diversificar investimentos vai além de escolher múltiplas classes e ativos; é fundamental expandir a fronteira e considerar outros países. Embora ações e títulos dos EUA sejam frequentemente a primeira opção, a tese de diversificação com investimentos na China tem ganhado destaque e pode atrair investidores de perfis moderados a arrojados.
Para investir neste mercado, é crucial considerar a volatilidade característica dos países emergentes e a dinâmica econômica específica da China. O Governo e empresas estatais desempenham um papel expressivo na economia, direcionando recursos e estímulos conforme prioridades estratégicas, além de controlar fluxos de capitais estrangeiros e domésticos.
Shahini ressalta que a China possui ciclos particulares, por vezes descorrelacionados das economias desenvolvidas. “Enquanto grande parte do mundo enfrentava um processo inflacionário no pós-pandemia, a China registrava deflação no mesmo período”, explica.
“Mesmo com todas essas particularidades, a China é altamente competitiva e líder global em setores tecnológicos estratégicos, como veículos elétricos, painéis solares, energia renovável, telecomunicações 5G e comércio digital, com grandes empresas e cadeias de produção sofisticadas”, avalia Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
“É uma das teses mais legais quando você pensa em compor a carteira dos investidores e pensa em outros lugares além dos EUA”, diz Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Investimentos. “Quando a gente olha para a Bolsa americana, a gente vê uma bolsa muito cara, com alguns patamares elevados em relação ao preço e Lucro. Quando olhamos para a China, vemos um valuation em uma média histórica mais palatável”, analisa.
China: Um Motor de Crescimento Mundial
A China tem sido o motor de crescimento mundial e dos emergentes por muitos anos, expandindo sua economia com base na construção civil e investimentos em infraestrutura. Recentemente, essa dinâmica tem se sofisticado. Com um crescimento anual de 5%, patamar elevado comparado a outros países, a China também se destaca no setor de tecnologia.
“Quando a gente fala de data center, de tudo que a gente vai precisar em termos de energia para a nova economia, como energia solar, baterias, a China está, com certeza, saindo na frente”, afirma Fontes.
A China detém o maior parque de energia elétrica do mundo, superando os EUA, o que torna o custo da energia muito barato no país. Outro ponto forte da economia chinesa são as commodities. Segundo Fontes, os preços globais também são impactados pela capacidade chinesa de produção agrícola.
Na análise de Fontes, a cultura voltada ao trabalho na China impulsiona a economia, em contraponto aos EUA, que valorizam mais o intervencionismo (“first state”) na política atual de Donald Trump.
Índices Globais e o Peso dos Emergentes
Considerando este cenário, o investidor pode começar a explorar investimentos na China por meio de portfólios globais, que utilizam como referência índices amplos de Mercado acionário. Um exemplo é o MSCI All Country World Index (ACWI), que combina economias desenvolvidas e emergentes, representando quase todo o mercado acionário global.
A composição deste índice reflete o peso relativo de cada mercado mundialmente. Os Estados Unidos respondem por cerca de 60%, seguidos por Japão (5%), Reino Unido (3%), China (2,5%), Índia (quase 2%) e o Brasil (próximo de 0,5%). O restante é distribuído entre dezenas de outros países.
“Os benchmarks globais servem como um tipo de bússola para o investidor estruturar e calibrar seu portfólio visando a diversificação geográfica”, explica Shahini.
Já índices amplos de mercados emergentes, como o MSCI Emerging Markets (EM), colocam a participação atual da economia chinesa em torno de 25% — o que pode ser excessivo para alguns investidores, segundo Shahini.
Como Investir na China
Além dos índices globais que incluem a China, os ETFs são outra opção. Negociados em Bolsa, são ativos mais acessíveis, oferecem diversificação em uma estrutura de fundo, contam com regulação que garante segurança e possuem boa liquidez assegurada por market makers, aponta Shahini.
Ele cita que os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) também são uma alternativa, mas com opções mais limitadas, custos mais altos e liquidez reduzida. No caso dos ADRs (American Depositary Receipts), a diversificação é limitada, exigindo a compra de ações individuais ou montagem de um portfólio que demanda maior acompanhamento. Além disso, muitas ADRs são negociadas no mercado de balcão, tornando mais difícil e custoso para o investidor construir sua posição devido à ausência de liquidez.
Marília Fontes sugere alternativas para esses investimentos, como BDRs de empresas como Alibaba (BABA34) e Baidu (BIDU34), além de BDRs de ETFs (Fundos de Índice) que replicam o mercado chinês, como o XINA11 e o BCHI39.
A Kinea também adota uma visão positiva do mercado chinês. Em relatório, a gestora destaca nomes como a Xiaomi, com lançamentos que rivalizam o iPhone e avanços em veículos elétricos, e empresas de semicondutores, como Huawei e outras emergentes, incluindo Cambricon, Biren, Moore threads, MetaX, e ASICs de Alibaba e Baidu.
Fonte: InfoMoney