O recente anúncio do Prêmio Nobel de Economia, que destaca a importância crucial da inovação para o crescimento econômico, lança luz sobre o cenário brasileiro. Apesar de avanços notáveis em setores como petróleo, aviação e farmacêutico, o país ainda enfrenta desafios significativos, incluindo altas taxas de juros que desestimulam investimentos e a precariedade no financiamento da ciência.
A Trajetória da Inovação no Brasil
Graziela Zucoloto, coordenadora do Ipea, ressalta que, mesmo com investimentos moderados em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o Brasil se destaca em áreas estratégicas. No setor de petróleo, as inovações do pré-sal são um marco. A aviação brasileira, com a Embraer, demonstra resiliência e capacidade de inovação. No setor farmacêutico, o avanço dos medicamentos genéricos também é um ponto positivo.
“O que está por trás disso é política pública, não só para inovação stricto sensu, aquela que é para o mercado mundial, mas estamos falando de uma inovação que é feita também para o Brasil“, explica Zucoloto. Ela enfatiza que muitas dessas inovações visam melhorar as condições sociais e a produção interna, mesmo que não se tratem de descobertas inéditas globalmente.
Inovação com Foco em Sustentabilidade
O conceito de “destruição criativa”, central na premiação do Nobel, é particularmente pertinente para o Brasil quando se aborda a sustentabilidade e as tecnologias ambientais. A substituição de processos e tecnologias obsoletas por modelos mais eficientes e menos impactantes é um caminho que o país pode e deve trilhar.
“Na área ambiental, nem sempre a tecnologia em si é nossa, mas a nossa capacidade de difundir essas tecnologias aqui dentro faz com que os nossos processos de produção se alterem e a gente consiga produzir de uma forma mais sustentável. Então, a difusão também tem que ser algo central nesse debate”, pontua a especialista. A energia sustentável é um dos segmentos com grande potencial.
Barreiras Estruturais à Inovação
Apesar do potencial, o desenvolvimento inovador no Brasil é cerceado por diversas barreiras:
- Taxas de Juros Elevadas: O histórico de juros altos no Brasil desestimula o empresariado a investir em novas tecnologias, preferindo a rentabilidade mais segura do Mercado financeiro.
- Descontinuidade de Políticas Públicas: A Falta de constância nas políticas de fomento à ciência e tecnologia impede a consolidação de projetos de longo prazo.
- Regulação e Lobbies: Em áreas como tecnologias ambientais, a adoção de inovações muitas vezes depende de exigências regulatórias, que podem ser dificultadas por lobbies que buscam manter o status quo.
- Cortes em Ciência e Tecnologia: O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de financiamento para ciência e inovação, é frequentemente alvo de contingenciamentos. Esse corte, embora não imediato, compromete a capacidade futura do país em gerar conhecimento e novas tecnologias.
Inovação e o Desenvolvimento Social
É fundamental reconhecer que a inovação, por si só, não é garantia de desenvolvimento social ou de redução da desigualdade. “Não necessariamente toda inovação promove o desenvolvimento social”, alerta Zucoloto. Inovações podem levar à concentração de renda ou ter impactos ambientais negativos.
O caminho ideal passa por políticas públicas que incentivem inovações voltadas para o bem-estar social, a sustentabilidade ambiental e a melhoria da saúde pública, alinhando o progresso tecnológico com o avanço social.
Fonte: InfoMoney