CEO do BNP Paribas Brasil: Infraestrutura atrai investidores, sem importar o ciclo político

CEO do BNP Paribas Brasil: Infraestrutura no país atrairá investidores. Saiba como o cenário político e a economia brasileira influenciam o setor.
Infraestrutura no Brasil — foto ilustrativa Infraestrutura no Brasil — foto ilustrativa

O CEO do BNP Paribas no Brasil, Ricardo Guimarães, expressou otimismo em relação à demanda por projetos de infraestrutura no país. Segundo ele, o setor deve apresentar crescimento nos próximos anos, independentemente do cenário político ou das incertezas econômicas.

“Dificilmente vamos ver um leilão de infraestrutura em que não tenha investidor interessado nos próximos dois anos”, afirmou o executivo. “Independentemente do ciclo político, a pauta de infraestrutura do Brasil vai evoluir.”

No último agosto, o BNP Paribas anunciou um aporte de R$ 773 milhões na sua operação brasileira, o maior valor desde 2019. “Neste ano, identificamos que havia essa necessidade de reforçar o capital do banco, à luz do que estamos vendo de demanda”, explicou Guimarães.

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O setor de infraestrutura deve ser impulsionado, em parte, pela redução dos juros nos Estados Unidos e pela expectativa de queda na taxa Selic no Brasil. “Acreditamos que, durante 2026, a partir de março, teremos cortes (na Selic), terminando o ano entre 11,75% e 12%”, projetou Guimarães.

A continuidade da queda de juros, segundo o executivo, depende da resolução de um dos principais desafios econômicos do Brasil: a questão fiscal. “A próxima administração não vai conseguir escapar de fazer algum tipo de consolidação fiscal.”

Demanda por Projetos de Infraestrutura

O BNP Paribas enxerga um crescimento significativo no Brasil, especialmente em áreas como mobilidade urbana e rodoviária, portos e logística. Em São Paulo, diversos projetos de metrô estão em fase de execução, e novas rodadas de licitação de portos atraem grande interesse de players privados. Concessões de rodovias estão sendo renovadas com novos investimentos, e há um avanço em tecnologia com fibra, data centers e a incipiente economia verde, incluindo plantas de hidrogênio, aço verde e cimento verde.

“Essa infraestrutura toda — e ainda há outras — que o Brasil está precisando vai acontecer independentemente do ciclo político”, garantiu Guimarães. Ele destacou que este cenário se beneficiará da expectativa de cortes nos juros nos EUA e de um ciclo de flexibilização monetária no Brasil.

Confiança Regulatória e Vantagens Competitivas

Guimarães ressaltou a maior Confiança na questão regulatória brasileira, citando a pandemia como um teste importante. As agências reguladoras do Brasil, apesar de com potencial de melhoria, têm demonstrado independência. A resposta do Brasil em readequar contratos diante da queda de tráfego durante a pandemia foi considerada ótima, trazendo mais segurança para investidores.

O executivo mencionou parcerias de sucesso, como a com a Acciona na Linha 6 do Metrô de São Paulo, que, após a experiência positiva, está explorando outros projetos em rodovias e linhas de transmissão. Do lado do gestor público, a agenda de infraestrutura, via concessão e Parceria Público-Privada (PPP), tem mantido consistência. Modelos que coexistem e demandam parceria entre público e privado para viabilização.

Em comparação com outros países da América Latina, o Brasil apresenta vantagens como licenciamento ambiental mais rápido que em outras nações e agências reguladoras funcionais. Empresas de outros países latino-americanos têm voltado seu olhar para o Brasil. O grande diferencial brasileiro é seu mercado consumidor de 220 milhões de habitantes. Globalmente, o Brasil compete com China e Índia em mercados emergentes. Embora a China tenha um processo regulatório único e a Índia seja mais cara em termos de valuation, o Brasil ainda oferece oportunidades, especialmente com iniciativas como o ReData, que impulsiona a infraestrutura digital.

Impacto da Eleição Presidencial e Cenário Fiscal

Projetos com leilões já agendados devem ocorrer naturalmente, mesmo diante da incerteza eleitoral. Investidores podem exercer um escrutínio maior, mas os projetos de longo prazo (20 a 30 anos) não estão focados no próximo ciclo político. A eleição pode influenciar a velocidade do investimento ou o retorno exigido, mas a agenda de infraestrutura está posta.

O BNP Paribas projeta cortes na taxa Selic a partir de março de 2026, terminando o ano entre 11,75% e 12%. A inflação deve fechar 2025 em 4,8% e caminhar para 4,1% em 2026.

A questão fiscal é vista como um ponto crucial. Guimarães acredita que a próxima administração precisará focar em consolidação fiscal, com menor propensão a aumento de programas sociais. A reforma tributária, prevista para 2026/2027, e a agenda de reforma administrativa devem impulsionar discussões mais sérias sobre o controle orçamentário.

A eleição presidencial e a do Congresso definirão a intensidade do ajuste fiscal. Um Congresso de centro-direita, esperado para a próxima legislatura, será refratário a aumentos de impostos e demandará ajuste de despesas. O executivo defende que a consolidação fiscal seja feita de forma mais direta, aproveitando o tempo comprado com o teto de gastos e o arcabouço fiscal. O Brasil já avançou de um déficit estrutural para um cenário próximo ao equilíbrio, mas o próximo passo exige maior agilidade.

Cenário Externo e Acordos Comerciais

O impacto da tarifa de 50% dos EUA para o Brasil foi considerado economicamente pequeno. Grande parte da pauta de exportação ficou isenta, e as commodities restantes, de alta demanda global, encontrarão outros mercados. A estimativa é de um impacto de apenas 0,1 ponto porcentual no PIB.

A negociação comercial entre Brasil e EUA tem se intensificado, e o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que o Brasil tem buscado destravar, pode se beneficiar dessa pressão. Guimarães está otimista com o avanço deste acordo, apesar das salvaguardas em discussão.

O principal risco global identificado é o geopolítico, incluindo as guerras no Oriente Médio e na Europa, que podem escalar rapidamente.

Fonte: Estadão

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