A inflação de alimentos no varejo deve voltar a pressionar o índice geral no último trimestre do ano, encerrando um ciclo de quatro meses de queda nos preços. Apesar disso, a expectativa é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano com alta de 4,72%, ligeiramente acima do teto da meta de 4,50%, segundo o Boletim Focus do Banco Central.
Economistas apontam para um aumento nos preços de proteínas, como carne bovina e aves, além de café e itens in natura como legumes e frutas entre outubro e dezembro. Esse período geralmente coincide com maior circulação de dinheiro devido ao pagamento do 13º salário, o que pode permitir que os consumidores aceitem reajustes nos preços.
As cotações de produtos agropecuários no atacado já indicam essa tendência de alta, revertendo quedas anteriores. Entre maio e julho, o Índice de Preço no Atacado (IPA) de produtos agropecuários, apurado pela FGV, registrou quedas significativas. Fatores como boas safras, a gripe aviária (que aumentou a oferta interna de aves), o câmbio e tarifas de exportação dos EUA contribuíram para a queda dos preços da comida em meses anteriores.
Fabio Romão, economista sênior da 4intelligence, destaca que a trajetória benigna nos preços dos alimentos em domicílio, com taxas abaixo da sazonalidade, deve mudar no último trimestre. “Não é uma coisa horrorosa, mas tinha um bônus, um alívio, que vai deixar de ter”, afirma.
Em agosto, o IPA-DI de produtos agropecuários subiu 1,53% e em setembro, 1,89%. Com um intervalo de transferência das cotações do atacado para o varejo, espera-se que os preços de alimentação no domicílio voltem a subir em outubro. No IPCA de setembro, o grupo de alimentação no domicílio registrou queda de 0,41%, a quarta consecutiva.
Virada nos Preços de Alimentos Prevista para o Fim do Ano
Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos, projeta alta de 0,60% para alimentação no domicílio em outubro, e de 0,85% e 1% para novembro e dezembro, respectivamente. A economista alerta que o nível atual do câmbio pode não se sustentar, com incertezas globais e o cenário fiscal brasileiro levando a uma possível desvalorização do real, impactando os preços.
A sazonalidade também contribui para a projeção de aumento. Enquanto o primeiro semestre costuma ter preços de alimentos mais baixos devido a fatores climáticos e de safra, o último trimestre vê a influência desses fatores cessar. André Braz, coordenador de índices de preços do Ibre da FGV, concorda que o câmbio é uma variável volátil que pode comprometer os preços dos alimentos. Ele prevê aumentos menores no último trimestre em comparação com o ano anterior, devido à maior oferta de produtos.
Vilões do Carrinho de Compras: Proteínas e Hortifrúti em Alta
Para o último trimestre, Romão projeta uma alta de 3,22% para alimentação no domicílio, acima da média histórica do período. Os principais aumentos de preços esperados entre outubro e dezembro incluem tubérculos, raízes e legumes (10,80%), hortaliças e verduras (4,64%), frutas (5,44%), carnes (5,38%), aves e ovos (4,96%), e bebidas e infusões como o café (4,61%).
O destaque será a carne bovina, afetada pelo ciclo de baixa da pecuária, e o café, com estoques mundiais apertados. “Vamos ter um final de ano com alta de proteínas, muito provavelmente”, afirma Romão. A projeção da consultoria para a inflação de alimentos no ano é de 4,85%. Desde 2020, a alta de preços da alimentação no domicílio tem superado a inflação geral, impactando desproporcionalmente a população de menor renda.
A inflação de alimentos neste ano poderia ser pior sem o recuo dos preços nos últimos quatro meses. Essa desaceleração, aliada à taxa de câmbio, levou à revisão para baixo das projeções do IPCA. “E hoje virou: o ponto comum é abaixo de 5%”, observa Romão, referindo-se às projeções mais recentes do Mercado.
Varejistas Buscam Estratégias Criativas para Impulsionar Vendas
Apesar do retorno de pressões nos preços dos alimentos no final de ano, época de maior consumo, os varejistas precisarão de criatividade para estimular as vendas. Há sinalizações de aumento de preços de 6% para carne bovina e até 15% para o café este mês.
Executivos do setor relatam que, após atingirem metas até julho, o cenário mudou a partir de agosto, forçando redes de supermercados a intensificar Promoções. Uma pesquisa da consultoria Neogrid indica que 77% dos consumidores buscam mercados com promoções, e 60% consideram promoções e descontos como fatores cruciais na decisão de compra.
Fonte: Estadão