A Inteligência Artificial (IA) está remodelando o cenário profissional, impulsionando mudanças significativas em profissões tradicionalmente estabelecidas. Médicos que utilizam IA em seus atendimentos e advogados que desenvolvem robôs ilustram essa transformação. No hospital Albert Einstein, ferramentas de IA já auxiliam na transcrição de consultas, liberando tempo para que os médicos se dediquem ao cuidado direto do paciente, como aponta Rodrigo Demarch, diretor de inovação da instituição.
Essa integração da IA se estende por diversas áreas, otimizando rotinas e aprimorando a precisão dos resultados. Na advocacia, o temor inicial recai sobre o impacto nos cargos juniores, mas a tecnologia promete automatizar tarefas repetitivas e volumosas.
O Impacto da IA na Saúde e no Direito
No setor de saúde, a expectativa é que a IA acelere a tomada de decisões médicas e aumente a precisão. Alexandre Tibechrani, diretor da divisão Tech da LHH, destaca que a capacidade da IA de analisar dados é superior à humana em velocidade, com projeções de implementações significativas em até 18 meses. O Einstein, por exemplo, já opera com 120 algoritmos desenvolvidos ao longo de uma década, auxiliando desde diagnósticos clínicos até a eficiência administrativa e financeira.
Essas ferramentas auxiliam na antecipação de internações e na identificação de detalhes sutis em exames de imagem, como fraturas ósseas, que poderiam passar despercebidas ao olho humano. Demarch enfatiza que a IA não substituirá os profissionais de saúde, mas servirá como um meio para aprimorar o trabalho. A adaptação e o domínio da IA serão cruciais para a diferenciação no Mercado.
IA no Mercado Jurídico: Novas Funções e Desafios
No campo do Direito, a IA tem um impacto particularmente notório em cargos de entrada, como advogados juniores e estagiários. Ferramentas de IA já são capazes de analisar vastos volumes de jurisprudência e processos com rapidez e menor custo. Ivar Hartmann, professor associado do Insper, prevê uma reconfiguração das funções, com o surgimento de novos tipos de cargos, em vez de uma redução geral de empregos.
Escritórios como o KLA Advogados já implementam robôs internos para agilizar a captação de publicações em diários oficiais e o controle de prazos. Tarefas que antes levavam dias, agora são concluídas em horas. A funcionária responsável por essa atividade passou a focar em análises estratégicas do material gerado pelas máquinas. Felipe Omori, sócio de Direito Tributário do KLA, ressalta que o objetivo é desafogar a burocracia para focar em atividades de maior valor agregado, desenvolvendo também automações para arquivamento e propostas comerciais.
O KLA tem avaliado diversas ferramentas de IA e planeja treinar seus funcionários no uso de prompts e na criação de automações. Omori assegura que o trabalho intelectual do advogado, como a elaboração de pareceres, não é delegável à IA, que atua como ferramenta de suporte. O conhecimento em IA pode se tornar um diferencial em contratações futuras.
O Novo Perfil Profissional na Era da IA
Em profissões tradicionais, o desafio não é competir com a IA, mas sim aprender a trabalhar em colaboração com ela. No mercado jurídico, um profissional Júnior precisará ter competências em tomada de decisão sobre softwares e segurança de dados, segundo Hartmann. As funções de base no Direito, como são conhecidas hoje, podem desaparecer em uma década, dando lugar a novas especializações, como engenheiros de prompt, uma habilidade cada vez mais essencial.
O advogado do futuro deverá ser versátil, com conhecimento tecnológico e capacidade de desenhar novas soluções de IA para o Direito. Instituições como o Insper já oferecem em seus currículos programação, estatística e ciência de dados. Aspectos comportamentais como curiosidade e comprometimento são igualmente importantes, segundo Rodrigo Dib, superintendente Institucional e de Inovação do CIEE, pois o foco se volta ao intelecto humano.
À medida que tarefas rotineiras são automatizadas, a capacidade de tomar decisões e interpretar resultados torna-se crucial. Alexandre Tibechrani conclui que a IA fornece informações, mas é o profissional que deve interpretá-las, questioná-las e adaptá-las. O olhar humano é o que confere personalidade e valor às entregas, mesmo com a eficiência das máquinas.
Fonte: Estadão