O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), contratou três funcionárias em seu gabinete cujas rotinas eram incompatíveis com as funções públicas que deveriam exercer. Uma delas era fisioterapeuta, outra estudante de medicina e a terceira, assistente social de uma prefeitura na Paraíba. Todas possuíam jornada de 40 horas semanais e deveriam se dedicar exclusivamente ao Legislativo, sem a possibilidade de exercer outras funções públicas.



Duas das funcionárias, Gabriela Pagidis e Monique Magno, foram demitidas após a Folha de S.Paulo buscar explicações do deputado. Apenas neste ano, os salários somados das três servidoras totalizaram R$ 112 mil, incluindo vencimentos, auxílios e gratificações. Procuradas, as servidoras se recusaram a detalhar os serviços prestados ao gabinete.

Gabriela Pagidis: fisioterapeuta com expediente em clínicas
Gabriela Pagidis, que atende como fisioterapeuta em clínicas em Brasília, possuía horários de trabalho compatíveis com sua profissão, atendendo em diferentes estabelecimentos durante a semana. Informações de sistemas do Ministério da Saúde e de seus locais de trabalho confirmam sua atuação como fisioterapeuta. Gabriela também compartilhava em redes sociais momentos de sua rotina de trabalho e em academias, distantes da sede da Câmara.
A Folha de S.Paulo acompanhou sua rotina, verificando que, nos horários em que não estava atendendo como fisioterapeuta, ela frequentava uma academia próxima à sua residência.

Louise Lacerda: estudante de medicina em João Pessoa
Louise Lacerda, filha de um ex-vereador paraibano, cursa medicina em João Pessoa, na Paraíba. Segundo a instituição de ensino, o curso é em período integral e diurno, o que dificultaria o exercício de funções no gabinete parlamentar.
A mesma cidade abriga Monique Magno, que, além de possuir um cargo no gabinete de Hugo Motta, atua como assistente social na Prefeitura de João Pessoa há quatro anos. A prefeitura informou que a carga horária de Monique é de 30 horas semanais. Mesmo com essa jornada, o acúmulo de funções exigiria uma dedicação diária de 14 horas, sem pausa para almoço, para cumprir ambas as jornadas.

Posicionamento de Motta e outras contratações
A assessoria de Hugo Motta afirmou que o deputado preza pelo cumprimento rigoroso das obrigações de seus funcionários, mesmo os que atuam remotamente e são dispensados do registro de ponto. No entanto, o gabinete se recusou a fornecer os registros de ponto dos funcionários citados e não detalhou as funções exercidas por elas.
A reportagem também identificou outros casos de possíveis acúmulos de funções e declarações inconsistentes. Maria do Carmo Brito, ex-sogra do pai de Motta, recebe proventos da Câmara e acumula com uma Aposentadoria estadual. Em um processo judicial, ela alegou não ter emprego, sendo apenas aposentada.
Fonte: Folha de S.Paulo