Guerra de Delivery: Ex-funcionários do iFood são investigados por vazamento de dados

Guerra do delivery: ex-funcionários do iFood são investigados por suspeita de vazar dados sigilosos para concorrentes. Caso vira caso policial.
Guerra dos apps de delivery — foto ilustrativa Guerra dos apps de delivery — foto ilustrativa

A disputa entre aplicativos de delivery ganhou contornos de caso policial com a investigação de ex-funcionários do iFood em São Paulo. Suspeitos de repassar informações sigilosas da empresa para concorrentes, dois ex-colaboradores tiveram dispositivos eletrônicos apreendidos em operações policiais recentes.

A Secretaria de Segurança Pública confirmou que um dos mandados foi cumprido pelo 32º Distrito Policial em São Paulo, com a apreensão de celulares e computadores. Um inquérito foi instaurado para apurar os fatos. Em Piracicaba, interior paulista, outro ex-funcionário teve seus equipamentos eletrônicos recolhidos pela Polícia Civil. A queixa registrada aponta para a transferência de milhares de dados de clientes e informações internas para dispositivos pessoais, com suspeita de compartilhamento com terceiros.

De acordo com relatos de pessoas envolvidas nas investigações, há pelo menos mais um indivíduo sob suspeita de envolvimento em práticas semelhantes. A investigação aponta para a chinesa Meituan, dona do aplicativo Keeta, como potencial destinatária das informações vazadas. O Keeta inicia suas operações no Brasil com um projeto-piloto em cidades do litoral paulista e planeja expandir para a capital ainda este ano, intensificando a rivalidade que já envolve nomes como Rappi e 99Food.

Ex-funcionários do iFood são alvo de busca e apreensão em investigação de vazamento de dados para concorrentes.
Polícia Civil investiga suposto vazamento de dados sigilosos do iFood.

Suspeita de Venda de Informações Sigilosas

O caso em São Paulo teve origem em um grupo de WhatsApp onde um dos ex-funcionários admitiu ter recebido mais de R$ 5.500 pelo envio de informações estratégicas do setor de delivery. As informações teriam sido obtidas por meio de questionários e entrevistas intermediadas por uma consultoria chinesa.

O ex-funcionário, que já havia sido demitido por justa causa do iFood dias antes, compartilhou com ex-colegas trechos das conversas com a consultoria, que incluíam perguntas sobre o relacionamento do iFood com sua controladora, Prosus, e a rivalidade com concorrentes como Meituan e Didi (dona da 99).

O iFood considera que as respostas fornecidas pelo ex-funcionário continham dados confidenciais e que o recebimento de remuneração por tais informações configuraria crime de concorrência desleal. Especialistas afirmam que a linha entre violação ética e crime reside na natureza pública ou privada das informações compartilhadas.

Concorrência Desleal e Penalidades Legais

Karoline Hoffmann, advogada especializada em Mercado digital, explica que o enquadramento legal depende da acessibilidade das informações. Vazamento de dados facilmente encontrados online pode ser uma infração ética, mas o compartilhamento de dados restritos pode configurar crime.

Ricardo Inglez de Souza, advogado e presidente da Comissão Especial de Direito da Concorrência e Regulação Econômica da OAB/SP, aponta que o crime de concorrência desleal pode levar à detenção de até três anos, punindo tanto quem vazou quanto quem solicitou as informações.

A reportagem apurou que funcionários do iFood têm sido abordados via LinkedIn desde o início do ano com ofertas para participar de conversas remuneradas sobre o setor de delivery no Brasil. O ex-analista comercial, em áudios compartilhados, descreveu o processo de responder a questões e participar de entrevistas por videoconferência, mencionando diretamente a Meituan.

Gráfico ilustra a disputa acirrada entre aplicativos de delivery no Brasil, com a entrada de novos players como Keeta.
A guerra dos aplicativos de delivery se intensifica com novas acusações de espionagem corporativa.

Posicionamento das Empresas

Em nota oficial, a Keeta negou ter contratado qualquer serviço para abordar indivíduos em seu nome e reiterou seu compromisso com as melhores práticas de mercado, colocando-se à disposição para colaborar com as autoridades. O iFood, por sua vez, declarou repudiar práticas de concorrência desleal e espionagem corporativa, reforçando seu compromisso com um ambiente transparente e ético no mercado de delivery.

No caso de Piracicaba, a Polícia Civil aguardará a perícia dos dispositivos apreendidos para dar andamento à investigação. O iFood alega que as informações acessadas pelo antigo empregado poderiam gerar prejuízos significativos ao negócio se compartilhadas com concorrentes.

Fonte: Folha de S.Paulo

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